As PME são o músculo presente e futuro de Portugal

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As Pequenas e Médias Empresas são de uma relevância incontornável para economia nacional. Em Portugal, existem cerca 987 mil empresas que se qualificam nesta categoria (943 mil são microempresas com menos de 10 funcionários), empregam 2,8 milhões de funcionários, que significa 77,1% do número de funcionários do sector privado nacional, e o valor gerado pelas PME’s para a economia é de cerca de 70% do total do tecido empresarial nacional. Nos últimos anos esta influência cresceu, com o valor acrescentado para a economia a subir 11,6% em 2023, e 4,8% em 2024, com as empresas ligadas ao sector do Turismo a representarem um catalisador essencial para este crescimento. No entanto, apesar desta influência e desempenho, este segmento de empresas ainda enfrenta elevadas dificuldades e constrangimentos para crescer. E que precisam de ser mitigados.

Numa primeira reflexão, importa dizer também que a transformação digital passa também muito pelas empresas de menor dimensão. As agendas mobilizadoras ligadas aos fundos do PRR, e apoiadas pelo programa de incentivo europeu Next Gen EU são cruciais para criarmos de raíz os futuros incumbentes nas novas economias, ligadas à digitalização segura de processos, às vertentes de Web3, euro digital e tokenização de ativos reais, à Inteligência Artificial ou até à implementação de processos de energia mais limpa. A última tranche, que é de cerca de 2,9 mil milhões de euros, existe de facto uma oportunidade para transformar as PME em Portugal para as próximas décadas.

Numa segunda linha importa referir que as PME em Portugal estão também bem posicionadas para o setor exportador. A contribuição deste segmento de empresas para as exportações nacionais são de cerca de 50%, bem acima da média da União Europeia, que é de 37%. Ou seja, construir um ecossistema que ajude a diferenciar e a ultrapassar barreiras tarifárias pela qualidade pode ajudar muito a que as nossas empresas se consigam impor e construir valor adicional para a economia portuguesa. Porque a nossa vocação de internacionalização está bem presente, e é através dela que podemos ultrapassar a escassa dimensão do mercado nacional.

Por último, dizer que apesar de ter tudo a seu favor, o tecido empresarial português continua a enfrentar desafios complexos. As PME’s sofrem com falta de escalabilidade, poder de negociação limitado, geração de fluxo de caixa fragilizado e operações ainda muitas vezes ineficientes. Outro problema está relacionado com a Tesouraria, e que torna as empresas altamente dependentes de financiamento bancário e extremamente expostas a aumentos acentuados de taxas. O mercado de capital de risco é também muito insípido na Europa, quando comparado com os Estados Unidos, e o acesso a investimento nas fases mais iniciais de operacionalização (seed ou pre-seed) são entre 70% a 80% inferiores.

Ou seja, as empresas portuguesas têm neste momento muita coisa a favor para poder ser o musculo do crescimento futuro do país. Mas urge encontrarmos soluções que resolvam alguns dos seus principais problemas. Soluções de securitização dos programas do PRR que aliviem a tesouraria as empresas, criar mais condições para o Investimento de capital de risco, e adotar mais incentivos à internacionalização poderão ser algumas respostas necessárias e cruciais.

*Luís Tavares Bravo é Economista, Presidente do Internacional Affairs Network

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