Os mercados acionistas estão a viver tempos de elevada volatilidade, a refletir aquilo que se tem passado na Sala Oval da Casa Branca – a imprevisibilidade de Donald Trump (e do seu braço-direito, Elon Musk) tem estado a pesar no sentimento de todos os investidores que, sem surpresas, têm vindo a apostar em ativos de refúgio, como o ouro, enquanto analistas e diplomatas tentam perceber como lidar com as decisões que vão sendo tomadas pela nova Administração norte-americana. Aquilo a que temos assistido, um pouco por todo o mundo, mas também em Portugal, é indicativo de tempos que a História vai marcar nos seus livros. Tal como fez em outros momentos.Na eventualidade de me estar a repetir – já outrora escrevi sobre isto, mas parece-me de tanta relevância que vou repetir, até porque ainda não o fiz nestas páginas –, gostava de recordar a Teoria Geracional de Strauss-Howe, desenvolvida pelos historiadores norte-americanos William Strauss e Neil Howe. Tenho-lhe recorrido vezes sem conta nos últimos meses, não porque nos pode ensinar a lidar com todas as variáveis que têm marcado a nossa política e governação, mas sobretudo para que nos lembremos de que a História não se repete apenas nas coisas más – haverá tempos melhores adiante.Segundo a Teoria de Strauss-Howe, a História divide-se em vários – consideram-se – períodos de cerca de 85 anos, o equivalente a uma vida longa de um adulto saudável em países desenvolvidos. Cada um é, por sua vez, composto por quatro vagas, que duram, em média, 21 anos cada. Estas vagas vão-se repetindo sucessivamente e até à exaustão, pela seguinte ordem: uma era de Fortaleza (High), uma de Despertar (Awakening), uma de Descoberta (Unraveling) e outra de Crise (Crisis). Segundo os historiadores, é precisamente esta última que estamos a viver atualmente – na verdade, previram-na no seu livro The Fourth Turning, escrito em 1994, e entretanto atualizado em 2009, uma vez que a crise do Subprime já tinha estalado, confirmando a sua teoria. A vaga de crise, diz a Teoria de Strauss-Howe, caracteriza-se por crescimento de movimentos extremistas, descrédito das instituições democráticas, convulsões sociais que podem escalar para guerras civis ou internacionais, aumento dos sentimentos individualistas e uma forte perceção de ameaça à sobrevivência das nações. Por norma, são espoletadas por crises financeiras que podem ter dimensão internacional e que impactam significativamente a vida dos cidadãos. Se tomou atenção ao que escrevi acima, já estará a fazer contas de cabeça: se considerarmos que esta vaga de crise começou em 2008, pelas contas dos historiadores, ainda nos faltam pelo menos três a quatro anos de dificuldades. No entanto – e eu prefiro sempre considerar o copo meio cheio – a partir daí entraremos numa vaga de Fortaleza (uma tradução muito livre do inglês High).Durante os anos que a compõem, afirmam Strauss e Howe, há um reforço do sentimento de comunidade, as instituições democráticas voltam a ganhar importância e estabilidade, e a sociedade une-se em torno de valores e objetivos comuns. Haverá sempre franjas, nas comunidades, que vão estar contra o sistema entretanto vigente, mas o que prevalece é o bom senso e a serenidade, com políticas voltadas para o futuro e para a refundação dos fundamentais das comunidades. Estas vagas caracterizam-se, por seu lado, por melhorias na qualidade de vida, na estabilidade política, financeira e social e por um desagravamento das desigualdades e da intolerância.É certo que para os mercados, as empresas, as instituições e os cidadãos que vivem o presente – como nós, que temos este jornal nas mãos –, três ou quatro anos parecem uma eternidade, sobretudo porque sentimos a violência de economias voláteis, incertas e em risco de recessão; sentimos o ambiente tenso nas ruas e tememos pelas decisões de quem manda nas nações mais fortes do mundo. E isso não é de somenos importância.O que nos pode tranquilizar a todos, de alguma forma, é que no grande esquema da História, estes tempos não são mais do que um pequeno solavanco no caminho. E, tal como aconteceu noutras alturas, vamos conseguir passar por ele, fazendo os remendos necessários para tornar o percurso menos penoso. Mas, para isso, temos de seguir juntos. Porque para vencer quem usa a técnica de “dividir para conquistar”, só usando a técnica oposta: “A união faz a força.”