Feliz 2025?
O atual cenário global é marcado por uma competição geopolítica intensa, com fortes implicações económicas, militares e diplomáticas. Os Estados Unidos e a China estão no centro dessa disputa pela hegemonia mundial, enquanto a Rússia tem vindo, de uma forma particularmente evidente desde a invasão da Ucrânia, a reafirmar o seu papel como importante player militar.
Por outro lado, a Europa enfrenta desafios significativos, tanto do ponto de vista político como económico. Nesta vertente, o relatório Draghi publicado em setembro foi muito claro ao apontar as debilidades estruturais da União Europeia. Acrescem a essas fraquezas as dificuldades conjunturais sentidas em França e na Alemanha, os dois principais atores da construção do projeto europeu.
Não é, pois, de admirar que a grande maioria dos analistas esteja pessimista quanto ao novo ano. Com efeito, estar inserido no espaço europeu, num país como Portugal que tem uma economia que, apesar do bom andamento, é especialmente sensível à conjuntura externa, não parece ser a melhor posição em termos de perspetivas futuras.
Mas, pondo de lado o pessimismo, pergunta-se: o que podem as empresas portuguesas fazer neste cenário? O que a seguir escrevo não deve ser entendido como uma estratégia e muito menos como uma receita. Deve, sim, ser encarado como um conjunto de recomendações cujo objetivo é minimizar o impacto de possíveis ameaças.
Creio que, em 2025, o sucesso das empresas portuguesas dependerá da capacidade de adaptação, inovação e planeamento estratégico num mundo que é cada vez mais fragmentado e multipolar – e que, neste momento, enfrenta uma incógnita acrescida chamada Donald Trump. A competição entre potências moldará áreas como o comércio internacional, a tecnologia e a segurança global. Para países como o nosso, será essencial navegar habilmente entre esses polos de poder, procurando maximizar oportunidades e minimizar riscos.
Assim, num cenário de rápidas e imprevisíveis mudanças, é fundamental que as empresas sejam ágeis. Isto exige redução da burocracia (sim, porque ela não é exclusiva do aparelho do Estado), simplificação dos processos de tomada de decisão e adoção de métodos de trabalho colaborativos. Além disso, a transformação digital é essencial: inteligência artificial, análise de dados e automação permitirão prever tendências, reduzir custos e responder rapidamente a alterações no mercado.
Antecipar o futuro será sempre impossível, mas planear para múltiplos cenários é indispensável. As empresas precisam de mapear potenciais riscos, sejam eles económicos, políticos ou sociais, e criar políticas de contingência. Diversificar portfólios de produtos e mercados pode ajudar a limitar impactos e garantir maior resiliência. O mesmo se diga quanto ao envolvimento em ecossistemas flexíveis. As empresas devem criar cadeias de abastecimento resistentes, diversificando fornecedores e adotando tecnologias para monitorizar e reduzir riscos.
A inovação deve, mais do nunca, ser parte integrante da cultura organizacional. Isso passa por incentivar a experimentação, aceitar que os erros são uma forma de aprendizagem e estar aberto a estabelecer parcerias com o meio científico e tecnológico.
Além disso, práticas ESG, que sejam promotoras de sustentabilidade ambiental, social e de boa governança, serão determinantes para atender às expectativas de consumidores e investidores. As empresas que forem capazes de integrar essas práticas na sua estratégia serão mais resilientes face a um quadro regulamentar europeu cada vez mais rigoroso – e que, infelizmente, está com frequência longe daquilo que é adotado pela concorrência.
Por último, e não menos importante, o foco no capital humano é essencial – as pessoas continuarão a ser o ativo mais valioso. Em 2025, a luta pela atração de talento e a capacitação contínua será essencial, com programas de upskilling e reskilling que preparem os colaboradores para novas exigências. O que, em última instância, requer lideranças resilientes, capazes de inspirar confiança e que percebem que os salários não são apenas uma despesa mas uma forma de investimento em capital humano.
Empresas que combinarem agilidade, inovação e planeamento estarão mais preparadas para transformar a incerteza em oportunidades. A chave será adaptar-se ao inesperado com flexibilidade e visão estratégica. Mas claro que nada disto garante um feliz ano de 2025. É que, apesar das nuvens no horizonte, não nos podemos esquecer de que haverá sempre os que choram e os que vão produzir lenços. Cabe-nos decidir de que lado pretendemos estar.