Há 50 anos, o crime económico das nacionalizações

Publicado a

Há 50 anos, neste mesmo mês de Junho, atingia o cume o processo das nacionalizações, profundo e criminoso atentado à economia portuguesa, mas considerado pelo poder revolucionário-comunista de então como a maior conquista do povo português

Iniciadas em Abril, as nacionalizações abrangeram sectores inteiros, banca e seguros, eletricidade, petróleos, transportes, siderurgia, tabacos, cervejas, pasta de papel, e empresas das indústrias transformadora, química, naval e cereais, estendendo-se depois à comunicação social, abrangendo todos os jornais.

Directa ou indirectamente, foram nacionalizadas cerca de 1300 empresas, aí se incluindo restaurantes e hotéis, tudo “conquistas irreversíveis da revolução”.

Afastadas as administrações, presos ou saneados administradores e quadros superiores, e entregues a gestores políticos que rodavam à cadência dos governos e, para mais, ideologicamente controlados pelos sindicatos e comissões de trabalhadores, as empresas lá foram sobrevivendo com gestão debilitada, para não dizer sem gestão.

Tratando-se das empresas com maior base tecnológica, as que melhor remuneravam os trabalhadores e que mais promoviam o desenvolvimento dos milhares de outras que se inseriam no seu processo produtivo, os efeitos não tardaram em sentir-se no desemprego, no racionamento de bens, na inflação que chegou a 20%, na desvalorização do escudo, em dificuldades cambiais. Embora omitidos na análise politicamente correcta em benefício do choque petrolífero ou de conjunturas externas, os efeitos das nacionalizações foram determinantes no recurso ao FMI em 1977.

Só em 1988 o Governo da Cavaco Silva conseguiu criar as condições para iniciar aabertura parcial ao capital privado, processo completado com a revisão constitucional de 1989 que eliminou a irreversibilidade das nacionalizações, permitindo a libertação da economia. Todavia, privados do seu capital e das fontes de acumulação, muitos dosinvestidores que quiseram recuperar patrimónios ou aproveitar oportunidades de investimento foram obrigados a endividar-se, mas não puderam manter as participações, caindo nas mãos de capital estrangeiro.

As forças que provocaram as nacionalizações continuam aí e com os mesmos objectivos. Há, pois, que lembrar o cinquentenário de tal crime económico para não se repetir.

Diário de Notícias
www.dn.pt