Quando olhamos para os últimos 150 anos, dois padrões emergem: quando houve um aumento das trocas internacionais, houve um crescimento sustentado da economia mundial; quando aumentou o nacionalismo e se colocaram barreiras ao comércio entre países, a economia mundial ressentiu-se e, pior do que isso, ocorreram duas guerras mundiais.A União Europeia (UE) é, entre os três principais blocos económicos mundiais, o mais aberto ao comércio internacional com o grau de abertura (exportações mais importações de bens e serviços para países terceiros) a representar cerca de 25% do seu produto interno bruto, o que compara com 20% na China e menos de 15% nos EUA, segundo o Eurostat. A UE beneficiou durante as últimas décadas desta exposição à especialização internacional, ao ponto de ter esquecido os pressupostos subjacentes, descurando os aspetos geoestratégicos que se tornaram patentes, primeiro aquando do Covid-19, e, depois, com a crise energética subsequente à invasão russa da Ucrânia e, agora, Trump...No caso particular da relação com os EUA, a mais importante a nível mundial, traduz-se num total de mais de 1,5 biliões de euros de trocas comerciais, com um saldo positivo para a UE de cerca de 56 mil milhões de euros (excedente no comércio de bens e défice no que toca a serviços). Somem-se 7 biliões de euros, quase igualmente repartidos, de investimento direto (IDE) entre os dois blocos e percebe-se a dimensão do que poderíamos chamar a economia transatlântica e de quanto haverá a perder com uma guerra comercial.Um consultor, qual Draghi, diria que, nestas circunstâncias, a EU deveria tomar a iniciativa, nomear um negociador, criar incentivos e agilizar procedimentos para atrair IDE e fomentar o investimento, em geral. Sair da letargia. António Costa aparenta tê-lo percebido. O busílis da questão está no fazer…Marx escreveu que a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Não sei se tem razão, embora me pareça que a farsa pode ser uma tragédia em escala ampliada. Apertem os cintos!Alberto Castro é economista e professor universitário