Liderança feminina num mundo em turbulência: a oportunidade é agora
Nunca o mundo precisou tanto de novas formas de liderar - e nunca as mulheres estiveram tão bem posicionadas para o fazer.
Vivemos um tempo de redefinição. As estruturas estão abaladas e nunca no nosso tempo de vida assistimos a um comprometimento tão forte, quer estejamos a falar das instituições, sistemas sociais, relações pessoais, crenças e valores.
A guerra na Ucrânia com o abalo que provocou e provoca na ordem mundial, os conflitos no Médio Oriente, o desalinhamento entre estados outrora aliados, o regresso da lógica dos blocos com geometria cada vez mais variável, a ameaça sobre o livre comercio— tudo parece instável. E é. Mas é precisamente nestes momentos de desordem que surgem as maiores oportunidades para quem está disposto a liderar de forma diferente.
As lideranças portuguesas — políticas, económicas, diplomáticas e até culturais — têm hoje uma rara oportunidade de reconfigurar o papel de Portugal no mundo. Não através da força, mas da inteligência emocional e estratégica. Não com ruído, mas com presença ativa e coerente. Pela primeira vez em décadas, há espaço real para desafiar os modelos tradicionais e afirmar estilos de liderança mais colaborativos, empáticos, estratégicos e sustentáveis. Estilos que, em muitos casos, estão mais alinhados com o modo como as mulheres tendem a liderar: com empatia, visão sistémica e capacidade de articulação.
Temos, felizmente, a sorte de contar já com grandes líderes mulheres no nosso país, em diversas áreas — empresariais, económicas e políticas. Ainda assim, cada vez mais se torna óbvio os benefícios da liderança feminina em setores que são cada vez mais críticos, identifico 3 exemplos.
Diplomacia internacional
Num mundo cada vez mais interligado, a capacidade de criar pontes vale mais do que a de erguer muros. Portugal pode — e deve — reforçar a sua presença junto dos seus aliados europeus e atlânticos, nos países lusófonos, nos mercados africanos emergentes etc. As executivas portuguesas estão mais que aptas para terem aqui também um papel central: como diplomatas empresariais ou gestoras de relações estratégicas.
Inovação, talento e futuro do trabalho
Portugal tornou-se um polo de atração de talento internacional, com nómadas digitais e centros tecnológicos. Mas para transformar esta realidade em valor duradouro, é preciso uma liderança inclusiva, capaz de reter talento, reinventar modelos de trabalho e promover ambientes onde a diversidade é mais do que uma meta — é uma prática. As mulheres estão a liderar esta transformação em muitas organizações, sendo que será necessário que estas boas praticas sejam disseminadas e seguidas.
Cibersegurança
Num mundo onde a guerra também é digital, a liderança feminina é cada vez mais essencial na cibersegurança. Trazendo, diversidade de pensamento, crucial para antecipar ameaças e resolver problemas complexos. Competências como empatia, comunicação e colaboração — muitas vezes desvalorizadas — são vitais num setor onde o fator humano é o elo mais frágil.
Mais do que nunca, o mundo precisa de novos paradigmas de liderança. É altura de reclamar lugar nos fóruns de decisão geopolítica, nos conselhos de administração de empresas estratégicas e nos grandes projetos transformadores. Portugal precisa de mulheres com voz e visão — não apenas nos bastidores, mas no centro da ação.
A história mostra que os países que crescem em tempos de incerteza são os que sabem ler os sinais do mundo e agir com visão. Portugal tem condições para ser um desses países. A pergunta é: estaremos à altura da oportunidade?