Mobilidade social dinamiza e equilibra nações
A última década trouxe inúmeros desafios à as economias desenvolvidas, onde os fundamentos basilares da economia contemporânea têm vindo progressivamente a colidir com a estagnação social e económica que os indivíduos e as famílias têm vindo a sentir nas últimas décadas.
A globalização, os valores ligados às próprias democracias, têm todos sido postos em causa, à medida que ocasionalmente o mundo, e também a Europa foi enfrentando situações de crise que também trouxeram um aumento das desigualdades e, consequentemente das tensões sociais e descontentamento popular.
As exigências dos próximos anos relativamente ao impacto que a transformação digital e da automação poderão trazer a nível do emprego e rendimentos, apenas acentuam a necessidade de a sociedade ser capaz de encontrar uma resposta que devolva confiança no futuro. A criação de mecanismos que aumentem a mobilidade social dos cidadãos, representa um fator essencial para atingir este propósito.
A mobilidade social e económica é um desafio em muitos países - e existem observatórios que mostram que, por exemplo, é baixa em países desenvolvidos como os Estados Unidos e Europa. Análises como a do Citi GPS de junho de 2023 Economic and Social Mobility e do World Economic Forum, Global Social Mobility Report 2020 salientam que podem existir benefícios económicos muito significativos se existirem medidas de incentivo. Do ponto de vista económico, o Fórum Económico Mundial concluiu que cerca de 514 mil milhões de dólares poderiam ser acrescentados à economia global se os países incluídos no universo do seu estudo aumentassem as classificações no Índice Global de Mobilidade Social em 10 pontos de índice.
Claro que, além do argumento do valor financeiro associado, existem os argumentos, como referido anteriormente, associados à questão da relação entre sociedade, democracia e cidadãos. As fracas perspetivas de mobilidade social pesam sobre o crescimento económico, e consequentemente, esta imobilidade social coloca em risco relação com instituições, e representantes políticos, polarizando e alimentandas soluções populistas, e minando a coesão social.
No entanto, criar condições para a mobilidade não é uma tarefa apenas dos decisores políticos, e das grandes instituições - como a Comissão Europeia, por exemplo. Também o setor privado, as empresas podem e devem envolver-se e desempenhar um papel significativo na garantia de um acesso justo ao mercado de trabalho, e ajudar a garantir maiores condições de transparência e solidez nas carreiras - ao mesmo tempo que alargar a sua base de recrutamento e talento.
Ao mesmo tempo o envolvimento com uma maior amplitude social ajuda nos objetivos corporativos de sustentabilidade, que é uma variável cada vez mais importante no âmbito das regras ESG que cada vez mais norteiam o grande acesso a financiamentos, não apenas públicos, mas também dos grandes fundos de investimento.
Economista. Presidente do International Affairs Network