No melhor pano há pontos negros

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Nas últimas duas semanas, várias notícias confirmaram a prosperidade do ecossistema de empreendedorismo nacional. Portugal conta com sete incubadoras e aceleradoras na lista dos principais hubs europeus de startups, segundo o ranking Europe’s Leading Start-up Hubs. Em 2025, acrescentámos mais um hub à lista face ao ano anterior, embora a Unicorn Factory Lisboa, que ocupa a 20.ª posição e lidera entre as portuguesas representadas, tenha saído do top 10.

No entanto, o mais relevante neste ranking do Financial Times, compilado pela Statista e Sifted, é que Portugal não se resume a Lisboa. A descentralização é crucial para perceber como o país se está a posicionar para maximizar as oportunidades que a criatividade e a inovação oferecem ao crescimento económico. Nesse sentido, a lista destaca ainda a Startup Braga, o Instituto Pedro Nunes (Coimbra), a LISOPOLIS (Associação para o Polo Tecnológico de Lisboa), a BGI (Building Global Innovators), a Startup Leiria e a Casa do Impacto, o hub de inovação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

E mesmo que o Porto não figure neste ranking, não fica atrás. As startups Connected, Ethiack e Storming Universe, incubadas na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, foram recentemente destacadas pela EU-Startupscomo três das dez startups nacionais mais promissoras de 2025. A lista inclui ainda a StarMountain (Fundão), a Mobmio (Funchal), a ETHIACK (Coimbra) e a PluggableAI (Braga) – mais exemplos da crescente descentralização do ecossistema empreendedor nacional.

Portugal está em ritmo acelerado no empreendedorismo. Os progressos são evidentes e refletem-se no Relatório Anual Startup Nations Standard 2024, recentemente apresentado pela Europe Startup Nations Alliance (ESNA). O país passou de uma taxa de implementação global de startups de 61% para 70%, superando a média europeia, que se mantém nos 61%. No acesso a financiamento e stock options, mecanismos que incentivam a distribuição de ações pelos trabalhadores, Portugal conseguiu implementar todas as medidas críticas para um ambiente favorável ao desenvolvimento do ecossistema de startups.

Mas onde estamos menos bem? O país enfrenta um problema crónico na capacidade de atrair e reter talento. Sem progressos face ao ano anterior, mantemo-nos nos 50%, 14 pontos abaixo da média europeia. Na regulação e inovação, a situação piorou: caímos de 49% para 40%. E como não há duas sem três, Portugal continua entre os países europeus que mais cobram pela criação de uma startup – entre 250 e 500 euros –, ficando-se pelos 40%, muito abaixo da média europeia de 70%.

São estes pontos críticos, dependentes das políticas governamentais, que devem acompanhar o esforço do ecossistema empreendedor para garantir que a prosperidade das startups se traduz num impacto sustentável e duradouro.

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