Novo perfil de consumo: a importância de escolher produtos europeus

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O movimento de incentivo à compra de produtos europeus, em detrimento dos norte-americanos, ganhou destaque nos últimos anos, traduzindo-se em mudanças nos padrões de consumo na UE27. Esta tendência, que se manifesta em diversas áreas, da tecnologia à indústria automóvel, reflete uma renovada procura pela soberania económica e digital e um protesto contra o monopólio das grandes corporações dos EUA.

Um dos sinais mais evidentes desta evolução é a recente queda nas vendas da Tesla na Europa. Em janeiro último, recuaram 45%, sendo ainda mais acentuada no caso da Alemanha: 76%. Um movimento que está diretamente associada às posições controversas do seu CEO, Elon Musk, que geraram insatisfação entre os consumidores europeus. Muitos optaram por marcas locais, como a Volkswagen, Renault e Peugeot, reforçando a importância de apoiar a indústria automóvel europeia. Este fenómeno demonstra como as escolhas individuais podem influenciar padrões de consumo e impulsionar a produção da UE.

No setor tecnológico, os europeus têm procurado alternativas locais aos serviços dominantes de big tech como a Google, Microsoft ou AWS. Soluções europeias como o Qwant (motor de busca francês), Proton Mail (email seguro de origem suíça), Element (plataforma de comunicação descentralizada) e HERE WeGo (navegação e mapas europeus) representam opções que respeitam a privacidade e seguem as diretrizes europeias de proteção de dados.

No campo da IA, Portugal anunciou o AMÁLIA, um modelo de linguagem que visa reforçar a autonomia digital na língua portuguesa, reduzindo a dependência de ferramentas estrangeiras, como o ChatGPT. Também na área dos serviços cloud surgem alternativas, caso da Schwarz Digits, do Grupo Schwarz (proprietário do Lidl e Kaufland), que aposta na segurança dos dados dentro da EU. O Ecosia, motor de busca alemão, é outra alternativa relevante, com 15 a 20 milhões de utilizadores globais e um modelo de negócio que financia a reflorestação de áreas degradadas.

Esta mudança de comportamento é essencial para o fortalecimento da economia europeia e para garantir que as escolhas de consumo refletem valores locais. Comprar europeu não é apenas um ato de preferência, mas uma forma de influenciar o mercado, promovendo diversidade, segurança dos dados e independência económica.

Cada decisão individual, da escolha de um carro até à assinatura de um serviço digital, tem impacto na estrutura económica europeia. A UE tem capacidade, inovação e produtos de qualidade para rivalizar com qualquer gigante norte-americano. Cabe-nos, enquanto consumidores, tomar decisões que reforcem a economia e a identidade do continente. O futuro está, também, nas nossas mãos.

*Sandra Fazenda de Almeida é Diretora-Executiva da APDC

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