Não, assim nunca haverá bons salários

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O aumento dos salários de que tanto se fala não passará de sonho ou miragem sem um ambiente favorável ao crescimento económico. E em Portugal não há esse ambiente. Não há, porque o decisivo motor do crescimento são as empresas, mas estas, os seus donos, acionistas e gestores, são diariamente causticados por forças hostis à iniciativa privada criadoras de um clima de combate ao lucro, qualificado como excessivo e especulativo, na forma mais moderada ou, mais radicalmente, efeito da exploração dos trabalhadores, e sempre alvo de pesada tributação, quando não de suspeitas infundadas. E que nunca analisa se o lucro obtido cobre o custo do capital, conceito complexo para críticas simplistas, ou mesmo se assegura uma saudável proporção com os capitais investidos, esquecendo de que não tem qualquer significado como valor absoluto. Forças que veem no Estado o agente único de progresso, com eco sustentado em muita comunicação social e alimentam uma hostilidade latente às grandes empresas, hipocritamente acompanhado de desvelado apoio às médias e pequenas, quando são precisamente as grandes as mais capazes de favorecer o desenvolvimento dos milhares de outras que constituem o tecido industrial que as complementa, e as que mais promovem a inovação e pagam os melhores salários.

Um ambiente que em nome de uma, tantas vezes, falsa transparência favorece a implantação de burocracias acrescidas que tolhem vontades e iniciativas e acabam por ditar a corrupção.

Ainda um ambiente que pune as empresas, sujeitas a um IRC no pódio europeu, a impostos extraordinários que se tornaram ordinários ou que recaem sobre lucros estimados ad hoc e que atentam a qualquer rigor de análise.

Situação que leva à saída anual de avultadas somas para o estrangeiro, depauperando o já diminuto mercado de capitais e dificultando o crescimento e financiamento das empresas, reduzindo-o ao crédito bancário.

Ao mesmo tempo que se beneficiam empresas ao serviço de objectivos políticos com preços garantidos, à revelia do funcionamento dos mercados, setor da energia é exemplo, penalizando toda a economia.

Um ambiente tanto mais incompreensível quanto é também promovido por partidos ditos defensoras da livre iniciativa, mas se opõem a correções indispensáveis.

Não, assim nunca haverá melhoria real de salários.

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