Não há almoços grátis: a mais valiosa lição da Economia

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Vivemos num tempo em que tudo parece estar à distância de um clique – rápido, fácil e muitas vezes gratuito. Mas será mesmo assim? No mundo da Economia, esta aparente gratuitidade é uma falácia perigosa que pode conduzir a más decisões, tanto a nível coletivo como individual.

Um curso de Economia oferece, em geral, formação sobre o funcionamento dos mercados, das empresas, das políticas públicas e das escolhas individuais. Para isso estuda-se desde micro e macroeconomia a matemática e estatística, passando por finanças públicas, política económica,economia internacional, teoria dos jogos e economia do trabalho, entre outras áreas consoante a instituição.

Todavia, no meio de todos os conceitos e modelos que se podem aprender numa licenciatura emEconomia, há uma ideia simples, mas poderosa, que resume uma das verdades mais fundamentais da Ciência Económica: “não há almoços grátis.”

Esta frase, popularizada por economistas como Milton Friedman, é mais do que um estereótipo académico. É uma lente através da qual se pode compreender o funcionamento não só daeconomia, mas também da política e da vida em sociedade. A sua mensagem é direta e simples: tudo tem um custo. Mesmo aquilo que parece gratuito tem sempre um preço, que pode seroculto, mas que é suportado por alguém em determinado momento.

Se o Estado oferece serviços públicos “gratuitos”, como saúde ou educação, é porque são financiados pelos contribuintes através de impostos. Se uma empresa faz uma promoção de preço fantástica num determinado produto, certamente que essa perda de margem – que até pode ter a natureza de um investimento que será recuperado mais tarde – é no imediato suportada pela rentabilidade de outros produtos.

Da mesma forma, quando acedemos a informação gratuita na internet, muitas vezes esquecemo-nos de que estamos a pagar um “preço” que não é imediatamente visível: os nossos dados, a nossa atenção, a nossa privacidade. Nada é verdadeiramente gratuito: há sempre uma troca, explícita ou implícita.

Além disso, esta máxima alerta-nos para o conceito de custo de oportunidade: ao escolhermos uma opção, abdicamos de outras. Cada decisão envolve perdas e ganhos, e compreender isso é essencial para uma gestão eficiente de recursos, tanto a nível individual como coletivo. 

Quando se diz que um maior investimento em defesa não irá afetar outras políticas públicas, está-se, pura e simplesmente, a enganar os cidadãos. Qualquer investimento numa área significa deixar outras de lado. A escassez obriga a fazer escolhas… e há que aceitá-las com transparência e responsabilidade.

No meu caso pessoal, posso afirmar que, mais do que uma lição económica, “não há almoços grátis” é uma filosofia de vida. Tem-me ensinado a valorizar o esforço por detrás de cada conquista, a pensar antes de decidir e a olhar com mais atenção para aquilo que, à primeira vista, parece “fácil” ou “sem custo”.

Esta é, sem dúvida, a maior aprendizagem que levo da licenciatura que tirei em 1980 na Faculdade de Economia do Porto: tudo tem um preço. Esquecer isso é o primeiro passo para decidir mal.

Presidente da Ordem dos Economistas - Norte

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