O futuro da Inteligência Artificial na arquitetura constrói-se hoje
Durante décadas, a arquitetura foi sinónimo de papel vegetal, estiradores, réguas e esquadros. Os ateliers estavam cheios de atividade manual, e cada linha era traçada com precisão e paciência – muitas vezes repetida inúmeras vezes até atingir o resultado desejado. A partir dos anos 80, começou a implementar-se o uso de computadores e programas de desenho assistido por computador – os softwares CAD, que criaram uma revolução. Mas o tempo não para e a arquitetura também não. Hoje, vivemos uma nova revolução: a integração da Inteligência Artificial (IA) no processo criativo e técnico da profissão.
Eu entendo que é um erro encarar esta transformação como uma ameaça. A IA não vem substituir o arquiteto, mas sim ampliar o seu potencial. A história da arquitetura está repleta de momentos em que a tecnologia libertou o criador para se focar na essência do projeto: a criatividade. Desde os primeiros esboços a carvão até ao desenho assistido por computador, cada avanço trouxe novas possibilidades.
O sistema BIM já tem também umas décadas, mas apenas recentemente se começou a usar de forma normalizada, o que nos permite cumprir tarefas repetitivas, como replicar elementos técnicos, como uma porta, ou gerar variantes de um modelo, de forma automatizada e com uma precisão e rapidez impensáveis há poucos anos. Um simples comando permite aplicar uma porta em todo o edifício, com as dimensões e materiais certos, poupando tempo e reduzindo erros. Pode parecer ficção científica, mas é o presente e já vivemos nele.
Ao contrário do método BIM – que permite maior automatização, mas não é pensado para auxiliar no lado criativo do projeto -, a IA é mais do que uma ferramenta técnica, é um verdadeiro catalisador criativo. Permite visualizar projetos em 3D em tempo real, testar estilos arquitetónicos com um simples clique e transformar maquetes digitais em experiências interativas, que ajudam a tomar melhores decisões ao simular o comportamento dos edifícios em diferentes cenários. Por exemplo, se eu quiser um edifício com inspiração provençal, em minutos tenho uma proposta visual pronta a ser ajustada. E esta agilidade não limita a criatividade nem substitui o papel do arquitecto — expande as possibilidades e permite testar variantes em menor tempo.
Os grandes ateliers internacionais, como o Norman Foster, já abraçaram esta mudança. Muitos criaram departamentos inteiros dedicados à IA. Porque, no fim do dia, a IA precisa do olhar humano: do conhecimento técnico, da sensibilidade estética, da visão crítica. Por mais avançada que seja, a tecnologia continua a depender da visão e do conhecimento humano. É o arquiteto que define o propósito, interpreta o contexto e toma as decisões críticas.
Aliás, somos nós, enquanto profissionais, que temos a responsabilidade de liderar, com visão e curiosidade, esta nova era. O modo como hoje integramos a IA nas nossas práticas determinará o papel que ela terá nas profissões de amanhã. A IA não representa o fim da arquitetura como a conhecemos — é o início de uma nova forma de criar: mais livre, mais eficiente.
O futuro já começou e está nas nossas mãos torná-lo aquilo que desejamos. A IA é uma ferramenta poderosa, mas é a mente humana que lhe dá direção e significado.