Ao longo da minha vida profissional, uma das maiores debilidades com que me tenho deparado nas empresas prende-se com a falta de foco. Trata-se, aliás, de um problema que se estende a muitas organizações, a começar nas públicas e a acabar nas do terceiro setor. Mas, a bem do título deste artigo, vou centrar-me nas empresas… para não me desfocar!
Manter o foco é um dos principais desafios de qualquer gestor. Muitas empresas perdem eficiência e competitividade devido à dispersão de esforços, o que compromete o potencial de crescimento e a criação de valor a longo prazo. Este não é um problema isolado, mas uma consequência direta da falta de planeamento e de organização. Sem uma direção clara e sem processos bem estruturados, as empresas acabam por desperdiçar tempo e recursos em múltiplas frentes sem registarem avanços significativos.
A falta de planeamento, tanto estratégico como operacional, é uma das principais causas da dispersão. Muitas empresas não têm um business plan bem definido, tomando decisões no imediato sem uma visão coerente em relação ao futuro. Este comportamento tende a levar à adoção de múltiplas iniciativas, dificultando a consolidação de objetivos e a construção de vantagens competitivas sólidas.
As empresas que não planeiam tendem a lidar com os desafios de um modo reativo, em vez de agirem de forma estruturada e intencional, o que enfraquece a capacidade de inovação e diferenciação, e torna a organização mais vulnerável a crises e mudanças bruscas, como as atuais.
Além da falta de planeamento, a desorganização interna também contribui para a dispersão. Empresas que não possuam processos claros ou uma estrutura operacional eficiente acabam por dividir esforços sem resultados concretos.
Falhas na comunicação interna, sobrecarga de tarefas e ausência de responsabilidades bem definidas são sintomas dessa falta de organização, tornando as equipas menos produtivas e os objetivos estratégicos difíceis de alcançar. Sem uma estrutura bem delineada, as empresas tornam-se reféns da urgência do dia a dia, sem tempo para investir no que realmente importa.
As consequências da falta de foco são profundas e podem comprometer seriamente o sucesso. Desde logo, como se assinalou, há um impacto direto na eficiência operacional: os recursos (humanos, financeiros, tecnológicos, relacionais…) tendem a ser mal utilizados, aumentando os custos e reduzindo a capacidade de investimento em áreas estratégicas.
Impede-se também a construção de uma identidade empresarial sólida, dificultando a diferenciação no mercado, a fidelização de clientes e, em última instância, a criação de marcas fortes, o que é uma das principais debilidades da economia portuguesa. Isto sem falar na desmotivação das equipas que frequentemente se sentem perdidas num ambiente onde as prioridades mudam constantemente e onde os esforços parecem pouco produtivos.
Para superar tudo isto, é fundamental que as empresas adotem uma postura mais disciplinada e estruturada. Definir objetivos claros e garantir que todas as ações estão alinhadas com essa visão é essencial. A implementação de processos organizacionais eficazes a par de uma cultura empresarial voltada para a disciplina e o rigor são fatores críticos de sucesso.
Os tempos que vivemos não são fáceis. Apenas as empresas que mantiverem o foco conseguirão destacar-se. A dispersão é uma espécie de inimigo silencioso que mina o crescimento e dificulta a inovação. Apostar numa gestão focada, bem planeada e organizada não é apenas uma fonte de vantagens competitivas – em muitos casos, é uma condição de sobrevivência.
*Carlos Brito é Presidente da Associação Portuguesa de Management