Setembro traz o recomeço das aulas, mas pode também ser um momento de recomeço para as empresas: uma oportunidade de reforçar a sua humanidade e de provar que sustentabilidade não é apenas financeira, mas também emocional e social. Investir nas famílias é investir na sustentabilidade do negócio.Este período é exigente para muitas famílias. Além da preparação do material necessário, dos horários e da logística familiar, há uma dimensão emocional que muitas vezes é esquecida: a transição que as crianças vivem ao voltar a um espaço, ou iniciar noutro, onde os pais não estão presentes, depois de semanas de férias, muitas delas passadas em proximidade total com a família.Enquanto mãe, já vivi esse momento em que, à porta da escola, o meu filho precisava de tempo. Lembro-me de ficar sentada com o Tomás das 9h às 11h30, apenas à espera de que ele estivesse pronto para entrar. Sem pressa, sem pressão porque naquele dia o mais importante era que ele se sentisse seguro. Não ter o peso do relógio, dos e-mails e das reuniões foi essencial para que eu pudesse estar inteira para ele. E é aqui que as empresas têm um papel determinante.A importância pedagógica da transição escolar. O início ou o regresso à escola é um processo pedagógico essencial. O choro, a insegurança ou a excitação fazem parte desta adaptação. As crianças “emprestam” o nosso sistema nervoso: se os pais estão ansiosos ou pressionados, essa emoção transmite-se. A previsibilidade e a calma constroem confiança. Por isso, este não é um tema menor: apoiar os pais neste momento é também cuidar do bem-estar das crianças e do futuro da sociedade.O papel das empresas. Enquanto profissional que lidera uma equipa cheia de famílias numerosas, observo de perto a importância de olharmos para os nossos consultores com humanismo, com responsabilidades para além do trabalho.O regresso às aulas não é apenas um acontecimento familiar, é um desafio que entra dentro das empresas através das emoções e das preocupações dos pais. E há práticas simples que podem fazer a diferença:● Flexibilidade nos horários nos primeiros dias de escola, permitindo que os pais acompanhem a adaptação das crianças sem receio de serem penalizados.● Compreensão e empatia por parte da gestão, que devem reconhecer que as lágrimas, a ansiedade ou até o silêncio fazem parte deste processo.● Pontos de ancoragem dentro da empresa, sejam colegas, líderes ou até programas de apoio que funcionam como vínculos fundamentais para o equilíbrio emocional dos adultos.O foco das empresas não deve ser eliminar as emoções, mas sim criar espaço para que pais e filhos as vivam de forma saudável. Humanidade como ativo organizacional. Muitos pais/colegas de trabalho na minha organização partilham que, depois de deixarem os filhos na escola, só no carro é que conseguem desmoronar e libertar a tensão. Ter alguém de confiança, um colega ou líder que acolha essa partilha, é meio caminho andado para que o dia acabe por correr melhor. Este cuidado não é apenas humano: traduz-se em colaboradores mais motivados, presentes e leais.O livro Fio Invisível, de Corinne Averiss, que recentemente uma amiga me recomendou, fala exatamente deste vínculo entre pais e filhos tantas vezes difícil no momento da separação, mas também fundamental para a construção da autonomia e da confiança. Tenho-o comigo como inspiração e partilho-o no meu espaço de trabalho em Lisboa, para que outros pais o possam conhecer.Investir nas famílias é investir no negócio. Porque no fim, as organizações não são feitas apenas de processos ou resultados são feitas de pessoas. Empresas que colocam as pessoas em primeiro lugar criam vínculos que resistem ao tempo, fortalecem a confiança e transformam-se em comunidades onde cada colaborador sente que pode ser inteiro: profissional, pai, mãe, filho ou amigo.Esse é o verdadeiro ativo organizacional: a capacidade de cuidar das pessoas para que, em retorno, elas cuidem também do futuro da empresa.As empresas que reconhecem a importância deste período e oferecem condições para que os pais acompanhem a adaptação dos filhos estão, na verdade, a investir em si próprias. Colaboradores que sentem apoio e empatia tornam-se mais comprometidos e mais disponíveis para entregar valor.Notas importantes para os pais. Além da dimensão emocional e organizacional, é importante que os pais conheçam os seus direitos legais neste período exigente. Pais trabalhadores podem faltar até quatro horas por trimestre, por cada filho menor, para acompanharem a situação educativa do seu educando. Podem sempre consultar a ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho):● Direito a faltar para acompanhar a vida escolar dos filhos: cada trabalhador pode faltar até quatro horas por trimestre, por cada filho menor, para se inteirar da sua situação educativa. Estas faltas são justificadas e não implicam perda de retribuição (artigo 249.º do Código do Trabalho).● Faltas justificadas por assistência familiar: os trabalhadores têm direito a faltar para prestar assistência inadiável a filhos, netos ou outros membros do agregado familiar em caso de doença ou acidente. No caso dos filhos, este direito é alargado:Até 30 dias por ano se a criança tiver menos de 12 anos ou for portadora de deficiência/doença crónica;Até 15 dias por ano se tiver mais de 12 anos.● Outras situações previstas na lei: casamento, luto (incluindo luto gestacional), acompanhamento da grávida ao parto, entre outras, estão também protegidas pelo Código do Trabalho. O mais importante: estas disposições legais existem para proteger as famílias e permitir que os pais acompanhem os seus filhos em momentos cruciais, sem medo de represálias ou penalizações. *Ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em vigor desde 2009.