Quem tem a chave para desbloquear o impasse político?

Publicado a

Os piores receios relativamente a uma nova crise política em Portugal, materializaram-se esta semana, após o chumbo no parlamento da moção de confiança colocada pelo governo. Consequentemente o país irá novamente para eleições, naquela que será a segunda clarificação em pouco mais de um ano. Sobre o futuro, ainda é pouco claro quem poderá sair vencedor das próximas eleições antecipadas, mas existe um cenário que parece de elevada probabilidade – o de que dificilmente existirá uma alteração significativa do peso atual dos partidos no parlamento, pelo menos de acordo com as primeiras sondagens. Isto significa que vença quem vencer, terá de enfrentar a cabeça um “parlamento pendurado”, sem maiorias a esquerda , e com linhas vermelhas à direita. Um cenário que pode representar um verdadeiro pesadelo para o país , num momento muito crítico para a Europa em termos económicos e geopolíticos, e consequentemente para Portugal e para os portugueses.

É certo que grande parte da campanha será feita em torno da situação pessoal do primeiro-ministro, e da clarificação política de confiança junto dos eleitores, uma vez que existem poucas ou nenhumas evidências neste momento da situação ser imbuída de alguma ilegalidade. Esse será provavelmente o facto mais mediatizado, e que será inédito pelo menos em Portugal. No entanto estas clarificações politicas têm custos significativos para a confiança na economia, e não só - a execução dos programas estruturais em que envolvem fundos europeus pode ficar comprometida , e são absolutamente cruciais para a transformação do país para as próximas décadas.

Ou seja, é muito importante que o calor do debate e da campanha política não se esgote na clarificação do caso de Montenegro. É essencial que cada um dos principais candidatos apresente a sua estratégia para garantir estabilidade para o mandato de quatro anos, e como é que resolverá o mais que provável impasse parlamentar. Neste momento, e face às sondagens as soluções são estreitas e reduzidas. Ao centro, ergueu-se uma cortina de ferro entre PS e PSD que dificilmente pode ser reposta com as atuais lideranças. Acresce que um cenário de grande coligação ao centro, como na Alemanha, sem envolvimento no executivo de governo será sempre fragilizada e percecionada como de curto prazo. Sobram as soluções de agregação dos extremos políticos, mas onde as linhas vermelhas por um lado, e reduzida probabilidade de garantir maioria parlamentar por outro, adensam ainda mais este impasse parlamentar.

O Partido Socialista, liderado por Pedro Nuno Santos, pode ter boas condições para unir a esquerda, incluindo o Livre, Bloco de Esquerda e possivelmente o PCP. Mas dificilmente terá uma maioria à esquerda, e necessitará de garantir pelo menos alguma tolerância por parte do PSD, ou eventualmente do Iniciativa Liberal. No entanto, considerando a intenção de manter a Comissão Parlamentar de Inquérito, é improvável que esta tolerância ao centro persista por muito tempo.

Já o PSD, teria à partida mais soluções. Uma coligação pré-eleitoral da AD com os Liberais garantiria – fazendo fé nas sondagens – a vitória eleitoral, e poderia eventualmente competir por uma maioria estável de centro-direita. Mas a IL já anunciou que seguirá sozinha, e isso obviamente deita por terra esta solução, pelo menos para já. Montenegro precisará alcançar a vitória por conta própria. Sobra por fim, a solução da linha vermelha, que é o Chega, que com Montenegro não funcionará – pelo menos até agora tem sido essa a posição. Qual é a então a solução para este impasse? A palavra está do lado dos principais candidatos, e que neste momento importa estruturalmente mais ao país que a clarificação pessoal do primeiro-ministro.

*Luís Tavares Bravo é Economista e Presidente do Internacional Affairs Network

Diário de Notícias
www.dn.pt