Seis meses mais entre nações e tensões?

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A primeira metade de 2025 foi marcada por alguns eventos que poderão moldar estruturalmente o futuro das relações entre as potencias atlânticas, dos quais podem ser destacadas as seguintes. Em primeiro lugar, as ofensivas tarifárias do governo norte americano relativamente ao comércio internacional ainda que atenuadas espoletaram o sentimento de que uma guerra comercial global por parte dos Estados Unidos pode estar a caminho. Em segundo lugar e deste lado do atlântico, os anúncios relativos ao esforço de investimento e esforços de rearmamento na Alemanha e não só prometem mudar a lógica passiva e pacifista da União Europeia, e contribuir também para a retoma económica do Velho Continente num momento em que persistem as expectativas de um prolongado impasse na Ucrânia, onde a paz com a Rússia parece agora estar mais distante. Poderão os próximos seis meses ser diferentes?

A segunda metade do ano pode continuar a ser agitada, sobretudo dada a incerteza que continuar a existir em torno dos efeitos das tarifas. A dimensão do impacto destas a nível dos preços nos Estados Unidos, assim como a manutenção da atual política monetária da Reserva Federal é tudo menos negligenciável. Por enquanto, os investidores estão expectantes, mas os mercados financeiros serão muito provavelmente vulneráveis, a más notícias, e novas correções, como as que ocorreram nos primeiros meses do ano, são um risco real, caso venham más notícias do outro lado do Atlântico.

Os estímulos fiscais também prometem marcar a agenda, dada a ambição das mesmas e potenciais riscos. Nos Estados Unidos, a polémica proposta conhecida como One Big Beautiful Bill Act, atualmente em discussão, levanta dúvidas sobre a sustentabilidade das políticas fiscais norte-americanas e sobre o impacto que terão na confiança dos mercados e na estabilidade económica global. Em contrapartida, a Europa vive um momento complexo, mas com sinais mais claros de esperança. Na Europa, a recente viragem fiscal da Alemanha, aliada ao ambicioso plano ReArm EU, evidencia um esforço concertado para responder aos desafios do presente, nomeadamente no reforço da segurança e na transição para uma economia mais sustentável. Ainda que as questões de financiamento sejam um obstáculo importante, existe uma maior clareza e coerência na abordagem europeia ao crescimento. Contudo, não podemos fechar os olhos às dificuldades internas que persistem, especialmente as divergências entre Estados-membros quanto à política fiscal e à necessidade de regras orçamentais mais flexíveis.

Ou seja, os próximos seis meses serão à partida, marcados por interrogações que podem bem alimentar mais incertezas. Portugal, apesar de indicadores que dão conta de resiliência económica em 2025 face à União Europeia, devido a fatores como o aumento das exportações, uma execução mais concentrada dos fundos europeus, está longe de ser imune ao agravamento do contexto internacional, pode por isso, e pelas fragilidades estruturais de contexto financeiro, manter-se especialmente vigilante.

*Luís Tavares Bravo é economista e presidente do Internacional Affairs Network

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