Tech no Feminino: mais que uma luta, uma estratégia de crescimento
Se a narrativa da tecnologia como um setor masculino está ultrapassada, os números teimam em desmentir o progresso. Continuamos com uma realidade onde apenas 20% dos especialistas TIC em Portugal são mulheres. E os cursos STEM atraem uma minoria feminina que, muitas vezes, não encontra espaço para crescer e permanecer. O discurso de que “falta interesse” às mulheres já não convence ninguém: a realidade é que não existe estrutura para acolher e reter talento feminino, não há intencionalidade na mudança e os esforços estão dispersos.
O problema não é a falta de iniciativas, é mesmo a falta de coordenação. Dos programas de mentoria às bolsas de estudo, dos eventos às políticas internas mais inclusivas, há toda uma miríade de projetos a acontecer em Portugal. Mas cada um opera no seu próprio círculo, aprendendo à custa do erro, replicando metodologias, sem cruzamento de experiências. No final, muitas destas iniciativas acabam por ter impacto limitado e dificuldade em escalar.
A tecnologia precisa de mulheres. Não por uma questão de justiça social, mas como uma necessidade estratégica para a competitividade do país. A diversidade não é um favor, é um fator de crescimento económico e de inovação. Os estudos são claros: equipas diversas resolvem melhor os problemas, desenvolvem produtos mais ajustados ao mercado e garantem um retorno superior sobre o investimento. Quando as empresas ignoram isto, não só perdem oportunidades, como se tornam menos competitivas.
O desafio agora não é criar mais iniciativas isoladas, mas sim conectar o que já está a ser feito, potenciar redes e dar escala ao impacto. É precisamente essa a proposta do "Prémio Women Shaping Tech", que a APDC se prepara para lançar.
Este prémio baseia-se no mapeamento das iniciativas STEM já existentes e na análise do seu impacto real, num trabalho realizado pelo STEM Women Congress. O objetivo é criar pontes entre esforços dispersos, garantindo que as atividades com maior potencial não fiquem limitadas por falta de investimento ou de visibilidade.
As empresas que apoiam a atração e retenção de mulheres na tecnologia financiam este prémio, comprometendo-se a selecionar e a premiar iniciativas que já estão no terreno, mas que necessitam de recursos para crescer e ampliar o seu impacto. Com este apoio, os projetos de comprovado valor e eficácia terão a capacidade de escalar, alcançar mais jovens e consolidar a presença feminina no setor tecnológico.
Desta forma, não estamos apenas a reconhecer boas práticas. Estamos sim a construir um ecossistema mais robusto, interligado e sustentável, onde cada iniciativa reforça a outra, criando um efeito multiplicador que beneficia toda a indústria e a sociedade. O Governo anunciou a criação do Programa Nacional das Raparigas nas STEM, iniciativa integrada na Estratégia Digital Nacional. O setor junta-se a este esforço, com o 'Prémio Women Shaping Tech', reforçando o compromisso com a atração e retenção de talento feminino na tecnologia!
*Sandra Fazenda de Almeida é Diretora-Executiva da APDC