Todos à espera de Trump

Publicado a

Taxas de juro elevadas, tensões comerciais e instabilidade geopolítica marcaram o ano económico que terminou. E 2025 pode não ser muito diferente, se os grandes líderes internacionais, em particular Donald Trump, se mantiverem intransigentes nas suas posições e impuserem uma ordem mundial soberanista. Do novo presidente dos EUA depende muito o crescimento económico global deste ano, o que nos deixa poucas certezas e muitos receios.

O futuro é por natureza incerto, mas 2025 reveste-se de uma dose extra de imprevisibilidade e risco. Estará Trump a fazer bluff ao ameaçar com um brutal aumento das tarifas? Terá ele consciência de que o protecionismo vai gerar pressões inflacionistas e tolher o crescimento económico, desde logo no seu país? Vão os EUA abdicar de serem os líderes do Mundo Ocidental, deixando a Europa sozinha na resolução dos conflitos geopolíticos? Quererá Trump ficar na História como o coveiro da NATO e do multilateralismo?

Se Trump fizer tudo o que prometeu, vai implodir a ordem liberal Ocidental, desestabilizar o comércio internacional, promover a desglobalização económica e dar gás aos movimentos populistas um pouco por todo o mundo. Com a anunciada subida das tarifas alfandegárias nos EUA, voltam a aumentar as pressões inflacionistas e pode, inclusivamente, ocorrer um novo choque da oferta, semelhante ao verificado no pós-pandemia. Há o risco de o agravamento do protecionismo provocar ruturas nas cadeias de abastecimento, causando aumentos generalizados nos preços, a persistência das taxas de juro elevadas e uma forte degradação das condições económicas à escala global.

Procurando uma perspetiva otimista, as pantominices de Trump podem gerar um “toque a rebate” na Europa. A UE sentir-se-á, finalmente, obrigada a reagir e a mudar a sua doutrina, funcionamento e estratégia. Creio, aliás, que a estratégia de afirmação geopolítica, de integração e crescimento económico, de desenvolvimento tecnocientífico e de transição verde da Europa está já, em boa medida, vertida nos relatórios Letta e Draghi. Importa, agora, que haja vontade e convergência políticas para avançar rapidamente com as propostas dos dois documentos.

A favor da mudança na Europa está não só o dramatismo do atual momento histórico, mas também uma presidente da Comissão Europeia recentemente legitimada, um novo e muito motivado presidente do Conselho Europeu - António Costa - e uma experiência bem-sucedida de coesão e solidariedade na resposta à pandemia.

A atravancar a mudança temos a polarização política no seio da UE, a ascensão do populismo em alguns países, a relutância em emitir dívida conjunta e, sobretudo, as crises políticas e económicas na Alemanha e em França.

Estou confiante, no entanto, de que a mudança acabará por ocorrer em breve e, como a parceria UE-Mercosul já pressagia, a Europa saberá encontrar novos mercados e fornecedores, de forma a contornar o protecionismo.

Responder à desglobalização com uma reglobalização pode ser a receita para a Europa, incluindo Portugal. O nosso país precisa de entrar em novos mercados, em particular fora da UE, para onde só exporta 14% do PIB. Há oportunidades que se abrem com a relocalização de negócios em países próximos e a regionalização das cadeias de abastecimento, mas, para as aproveitar, temos de reforçar a nossa competitividade. Ora, isto exige um esforço das empresas, assim como um compromisso político para garantir um quadro administrativo, legal e fiscal que favoreça o investimento e a atividade empresarial.

Presidente da CIP-Confederação Empresarial de Portugal

Diário de Notícias
www.dn.pt