As oportunidades da Defesa
A decisão da União Europeia de ativar a cláusula de salvaguarda nacional ao abrigo do Pacto deEstabilidade e Crescimento, permitindo a Portugal investir mais em defesa sem penalizações no âmbito dodéfice excessivo, representa um marco de elevada relevância estratégica, económica e institucional.Esta medida, adotada para 15 Estados-membros, incluindo Portugal, consagra uma nova abordagem deresponsabilidade partilhada no reforço das capacidades de segurança e defesa da Europa. Ao permitir queos Estados-membros disponham de uma margem orçamental até 1,5% do PIB para esse fim, a União Europeia reconhece a urgência de enfrentar os desafios geopolíticos atuais, fortalecendo a sua autonomiaestratégica e reduzindo dependências externas críticas.
Consentir uma melhor articulação da política económica nacional com os objetivos de resiliência esegurança, sem comprometer o equilíbrio orçamental, é uma demonstração de confiança mútua entre asinstituições europeias e os Estados-membros, onde a responsabilidade orçamental coexiste com a visãoestratégica para o futuro coletivo da União.É com elevada expectativa que o tecido empresarial olha para esta decisão, pelas implicações positivasque podem advir.
Num contexto do necessário reforço da indústria, o acréscimo do investimento públicoem defesa tende a abrir novas oportunidades de desenvolvimento para a indústria nacional, que não seconfinarão aos setores tecnológicos, estender-se-ão a uma ampla gama de outros setores de atividade.
É uma oportunidade para promover a capacidade de exportação e de tecnologias de duplo uso,nomeadamente pela integração nas cadeias de fornecimento dos grandes fabricantes.A defesa, enquanto dimensão da soberania e da proteção dos cidadãos, assume um papel central nocrescimento sustentado das economias europeias. Ao transformar necessidades de segurança em oportunidades de inovação e investimento produtivo, promove-se o desenvolvimento industrial, o emprego qualificado e o avanço tecnológico — pilares fundamentais da competitividade empresarial e da coesão socioeconómica.
*Luís Miguel Ribeiro é Presidente do Conselho de Administração da AEP – Associação Empresarial de Portugal