Vamos recordar e seguir a definição de ambição?

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Os últimos dias foram marcados pelas grandes empresas, dentro de portas: a Galp conseguiu uma muito necessária recuperação de valor em bolsa ao anunciar a descoberta de mais um poço de petróleo na Namíbia; a EDP e a sua participada EDP Renováveis apresentaram resultados, à semelhança de bancos e construtoras e o ambiente é, genericamente, positivo. As empresas nacionais continuam a afirmar-se nos seus setores e, numa altura em que dos EUA continuam a chegar notícias que a baralhar as contas dos investidores, isso é mais importante do que nunca. Porque, como salientam vários dos colunistas do Dinheiro Vivo, esta é a hora de a Europa mostrar que leu bem o Relatório Draghi e que os seus membros têm capacidade para responder às necessidades de um bloco que tem de voltar a afirmar-se no mundo, mais unido, mais industrializado, mais auto-suficiente. E como em todos os períodos de crise, há oportunidades à espreita para quem as souber aproveitar: para Portugal, uma delas é aposta na economia azul, que pode trazer um incremento de 12 mil milhões de euros à economia, como nos conta Bruno Esgalhado numa entrevista que pode ver na íntegra no nosso site, e cujo resumo lhe damos a ler no caderno que agora tem nas mãos. Para a Europa, é precisamente a afirmação das grandes empresas, que têm de se mostrar agora fortes e inovadoras o suficientes para conseguir virar para si as atenções dos investidores que procuram alternativas aos EUA – não porque queiram obrigatoriamente sair de lá, mas porque querem aplicar a velha regra de não colocar todos os ovos na mesma cesta. Este é, portanto, um período em que também poderá ser muito interessante olhar para os movimentos entre organizações do Velho Continente, onde o ambiente para fusões e aquisições pode começar a florescer.

É claro que o epíteto disso têm sido as companhias aéreas – e, naturalmente, estamos todos de olho no futuro da TAP, que tem interessados europeus – mas também entre bancos, as tecnológicas e as empresas do setor automóvel pode haver movimentações ambiciosas e frutíferas.

Ouvimos muitas vezes que Portugal não é um país ambicioso. E que a Europa, às vezes, também não o é. Temo que a nossa tradição maioritariamente católica nos tenha feito sempre olhar apenas para uma das definições da palavra “ambição” que nos é dada pelo dicionário: “forte desejo de poder ou riquezas, honras ou glórias; cobiça; cupidez”. Achamos que é uma coisa má, e não entendemos que é absolutamente necessária para nos afirmarmos, para sermos melhores e para crescermos. E é por isso que decidi deixar, esta semana, em jeito de desafio, um convite: embalados pelos bons resultados genéricos das nossas grandes empresas, que olhemos mais para a segunda definição que os dicionários nos oferecem, tomando-o como guia para os tempos que temos pela frente. “Anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso; aspiração, pretensão”.

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