Afastado o hiato da tragédia dos incêndios, o Orçamento para 2025 continua tema obsessivo no recheio dos telejornais, mas da opinião expressa raramente surge uma análise compreensiva, global e séria, refletindo geralmente interesses ideológicos, partidários ou corporativos, quando não ideias feitas ou meros slogans de ocasião.
O discurso partidário esgota-se no IRS jovem, no IRC e naquilo que mais agrada ou desagrada ao cidadão. Intervenções mais cuidadas são logo traduzidas, ampliadas ou truncadas por comentadores, jornalistas e especialistas independentes, que logo deixam perceber a ideologia que os anima.
Análises parciais há-as para todos os gostos: umas, pela receita, outras pela despesa, muitas pelo défice, esquecendo que este é um simples efeito; a do autarca, pelos fundos que não recebe, a do burocrata, pelas dotações do seu serviço, a do funcionário pelos aumentos salariais, a do sindicalista pelas repercussões no seu acordo coletivo, a dos agentes da cultura pela escassez de verbas, e a do defensor de mais estado por qualquer recurso à iniciativa privada.
Discutem-se as verbas para a investigação tecnológica, mas não fica uma palavra sobre os resultados e o ínfimo número de produtos comercializáveis que originam, esquecendo que só estes geram emprego e riqueza. E empresários e gestores só por distração redatorial são chamados a depor.
E como cada um toma a parte pelo todo, o orçamento é bom, sofrível ou mau para o país consoante o seu problema pessoal é resolvido, considerado ou ignorado.
A rádio e a televisão privilegiam o espetáculo: convidam muitos para pouco tempo e, no atropelamento das vozes, ninguém conclui o que o Orçamento deve ser para que o País dê a volta para o desenvolvimento que precisa. No fim, sugerem os responsáveis, cumpriu-se o dever de informar.
Discutir o Orçamento deveria ser avaliá-lo como um marco sinalizador do bom caminho no cumprimento de um plano de legislatura, vendo-o assim como um instrumento e não um fim em si. Em que a reforma do Estado e da administração pública fossem vetores, não de burocracia estéril, mas de crescimento económico do qual afinal depende a melhoria das condições sociais.
Mas o que se vai discutindo são percentuais e formalidades. Sobre as questões fundamentais para o nosso futuro não há conversa.
Economista