Orgulho e preconceito?

Junho foi o mês do orgulho LGBTQIA+ e as marcas não perderam tempo em associar-se a uma causa social com crescente visibilidade pública. Numa colorida feira de vaidades, a bandeira da inclusão foi hasteada com pompa e circunstância. A maioria ficou pelo discurso politicamente correto, contrastando com alguns raros exemplos de empenho verdadeiro.
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Muito antes da pandemia da covid e da esperançosa frase "vai ficar tudo bem" já o arco-íris tinha sido adotado como símbolo da militância e resiliência de toda uma comunidade. Começou por ser LGBT e foi crescendo sempre na lógica de não deixar ninguém de fora. Junho foi o mês do orgulho LGBTQIA+ e as marcas não perderam tempo em mostrar toda a sua simpatia pela causa, considerando o momento como uma imperdível oportunidade de comunicação.

Muita tinta rolou sobre os mais diversos casos, em Portugal e no mundo. Foi assim com o Sporting, que surpreendeu os fãs com uma fusão do arco íris com o histórico brasão do clube. Rapidamente, os ânimos incendiaram-se nas redes sociais - só no Facebook somam-se mais de 3500 comentários. Os elogios a esta tomada de posição dos verdes e brancos são a exceção à regra e a maioria não concordou minimamente com esta tentativa de politização do clube, o que aliás contraria os seus estatutos. Ainda na onda da bola, ficou gravada a nega da UEFA em permitir a exibição das cores do arco íris no encontro do Euro 2020 entre a Alemanha e a Hungria, alegando que "pelos seus estatutos, a UEFA é uma organização política e religiosamente neutra".

No setor do grande consumo, muitas foram as marcas que vestiram as cores desta causa. Já no ano passado a Oreo tinha lançado uma edição especial que celebrava a diversidade de género. Nos Estados Unidos esta ideia deu origem a uma verdadeira guerra e ao apelo ao boicote da marca pelo grupo One Million Moms, que a acusava de tentativa de manipulação das crianças em prol da doutrina homossexual, reivindicando uma atitude neutra nesta guerra cultural. Também a Coca Cola tem uma longa tradição de apoio a esta causa.

Ao contrário de outras marcas, que se ficam pelas bonitas intenções, a Coca Cola tem uma política efetiva de inclusão dos seus quadros, seja qual for a sua opção ideológica e/ou sexual. Neste campo, ficou famoso o lançamento no Brasil de uma Coca Cola que afinal era Fanta, procurando desmontar uma das piadas mais homofóbicas que corre naquele país irmão com um simples "e daí?". Neste âmbito, a marca criou até o hashtag #youareincluded.

Também a HP tem programas internos direcionados para a inclusão e não-descriminação de colaboradores deste grupo, sem para isso fazer grande propaganda. É a diferença entre as intenções e os atos ou aproveitamento de uma tendência para vender mais. Neste campo, todos querem ficar bem na fotografia, mas efetivamente poucos vão além das intenções.

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