Os desafios energéticos XXI

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Como referiu Bruno Le Maire, a atual crise energética é apenas comparável à crise petrolífera de 73. E se uma crise tem impactos graves, duas crises consecutivas - pese embora diferentes - têm um potencial imprevisível.

Depois de uma pandemia que abalou as economias mundiais e da qual ainda hoje continuamos a sentir muito significativos, nomeadamente pela falta de matérias-primas relacionadas com as paragens de produção durante a fase mais critica, deparamo-nos agora - quando estávamos com perspetivas de recuperação e de estabilização de stocks e preços - com uma invasão russa à Ucrânia.

O aumento de preços e a instabilidade dos mercados tem consequências diretas em todas as cadeias de valor, de distribuição e de custos. Como consequência, temos tido não só aumentos +98Jalimentares.

Perante o complexo contexto em que estamos inseridos, a UE tem avançado no desenvolvimento de novas soluções de produção de energia. Se nos últimos anos a aposta numa transição energética rápida e eficaz, com perspetivas de se atingir a neutralidade carbónica em 2050 e assente na produção de energias renováveis, tem sido significativa, perante o novo contexto geopolítico a UE tem necessariamente que não só redesenhar algumas das suas políticas energéticas e de reindustrialização como aprofundar e acelerar a transição energética já conhecida no European New Deal, com o incremento mais rápido de soluções verdes e renováveis de forma segura e fiável.

Ora, se as fontes solares e eólicas já conseguem ter um impacto significativo, é sabido que não será, pela volatilidade que lhes é conhecida, solução única. Se as hídricas reversíveis dão parte da resposta, situações de seca como a que atravessamos demonstram que precisamos de assegurar um fornecimento estável com novos mecanismos inovadores, assentes em soluções como o hidrogénio verde. A isto pode-se e deve-se somar o aprofundamento das interligações energéticas e o desenvolvimento de outras potencialidades, como é o caso do eólico offshore, com sucesso comprovado no Mar do Norte e já em Viana do Castelo com o Windfloat. E se até 24 de fevereiro, tínhamos como principal preocupação e razão as alterações climáticas cada vez mais notórias, hoje, a dependência do petróleo e do gás oriundo da Rússia vem redobrar esta necessidade.

Todavia, se é certo que as fontes de energia renovável constituem alternativas aos combustíveis fósseis, contribuindo para a redução das emissões e para a urgente diversificação das fontes energéticas, reduzindo a exposição europeia a crises como as que assistimos, é basilar que, a par de uma transição justa, verde e diversificada, as empresas e os cidadãos sejam apoiados para garantir que os constrangimentos que uma alteração significativa e rápida, talvez mais brusca do que desejávamos, não tenha como consequência o empobrecimento da classe média e um prejuízo significativo na normal atividade das nossas empresas, particularmente as PME.

É que se todos sabemos que a defesa do ambiente, do planeta e da liberdade terá um custo - que todos nós estamos disponíveis para pagar- , é também sabido e determinante para o futuro da UE que esta encontre soluções que permitam que a coesão económica e social não seja afetada mas, pelo contrário, reforçada. Temos, pois, de estar preparados para pôr em suspenso as doutrinas habituais - de que baixar impostos sobre os combustíveis fósseis é apenas um subsídio às alterações climáticas, de que os ganhos das renováveis às térmicas são irreversíveis, de que já não faria muito sentido investir em infraestruturas de gás (ignorando aliás que também dariam para gases renováveis como o hidrogénio) ou que a fileira elétrica seria apenas um maná que não precisaria do nosso apoio.

Este é o tempo de demonstrar que a nossa aposta na transição energética é resiliente, inteligente e coesa.

Business partner do Grupo GoGreen, jurista e especialista em fundos europeus

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