Os líderes do futuro

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Em conversa com um artista plástico, que também é professor num Instituto Politécnico, ele falou-me da dinâmica que imprime às suas aulas. Fiquei a perceber que é capaz de manter o equilíbrio entre proximidade e distância necessário à relação professor/aluno. Que é capaz de desconstruir estereótipos que os jovens apesar de tudo mantêm e, ainda, dominar com sensatez e humor situações como o uso do telemóvel na sala de aula ou enquanto se está numa conversa. O que o surpreendia no seu relato é quando, numa dessas situações em que o aluno é instado a um comportamento diferente, simplesmente começa a chorar. Dei comigo a pensar se estaríamos perante uma atitude de manipulação ou se de extrema fragilidade. Em ambos os casos, quais serão as causas?

Para um trabalho recente tive oportunidade de entrevistar cerca de trinta jovens, de diferentes nacionalidades, com idades entre os 23 e os 30 anos. Devo confessar o meu gosto e curiosidade pelas conversas com jovens que me obrigam a afastar a crença "no meu tempo não éramos assim". As conversas andaram à volta da integração no mundo do trabalho: experiência, o que esperam da liderança e como se projetam no futuro. Em relação à experiência a maioria tem uma média de um a dois anos de permanência nas empresas, saltitando de uma para outra com uma frequência que na minha geração seria qualificada como sinal vermelho. Quando instados a refletir sobre essa busca permanente de um emprego melhor, aqueles que já tinham pensado sobre isso apontaram o querer aprender mais, o desenvolvimento profissional, ou até mudar de área.

Como é que após um ano numa empresa sentem que já não têm mais a aprender leva-me a pensar na maneira como cresceram. Hoje tudo é experiência e estímulo, desde ir a um restaurante, a fazer uma caminhada, a comprar um telefone ou qualquer outro produto, a fazer uma viagem, ou a ir ver uma exposição. Desde muito cedo proporcionam-se "experiências" e atividades, mantendo as crianças ocupadas em permanência. O estímulo constante não deixa espaço para o tédio, tão necessário ao pensamento e, de certa maneira, a adquirir alguma resistência à frustração (que permitiria, por exemplo, aceitar a admoestação do professor citado no início) assim como a atribuir significado às ditas experiências. Sempre que hoje se fala em experiência lembro T.S. Elliot: "We had the experience but we missed the meaning".

Quanto ao que esperam da liderança, seja qual for a idade, foram unânimes em afirmar que querem um líder com mais conhecimento, disponibilidade para apoiar e que dê feedback diário, onde será possível reconhecer a tal necessidade de estímulo permanente.

O que mais me surpreendeu, no entanto, foi que a maioria, independentemente da idade, afirmou não querer vir a ocupar um lugar de liderança. Escutando as razões acabei por encontrar a conotação negativa que atribuem à palavra. Eles não querem "mandar", o que desejam é, se o futuro assim o ditar, gerir equipas de maior ou menor dimensão num ambiente de cooperação e colaboração onde possam continuar a aprender e a apoiar o desenvolvimento dos outros. No fundo aquilo que esperam dos seus atuais líderes. Será isso que procuram quando saltitam de empresa em empresa?

Dalila Pinto de Almeida, consultora em Pesquisa e Desenvolvimento de Talento na www.dpaconsultoria.pt

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