Os móveis de Siza e Souto de Moura

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"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", dizia Fernando Pessoa. No plano do mobiliário urbano, "o cliente quer, os arquitectos e os designers sonham, a obra nasce" pela mão da Larus, empresa que surgiu há 23 anos em Albergaria-a-Velha.

Todos nós já utilizámos bancos de jardim ou papeleiras que vieram daquela unidade industrial de 38 trabalhadores - metade dos quais dedicados à vertente criativa. Estão presentes em espaços públicos um pouco por todo o País: no Metro do Porto, no Museu de Serralves, no Parque das Nações. Os horizontes alargaram-se e a Larus estima exportar 40% da produção no próximo ano, além de forrar grande parte da frente ribeirinha de Lisboa com as suas peças.

Nomes de mestres como Siza Vieira, Souto de Moura ou Alcino Soutinho fazem parte do portfólio do mobiliário executado pela empresa. Junte-se-lhes designers como Henrique Cayatte e obtém-se uma combinação de genialidade que carece, no entanto, de uma perfeita sintonia com os criativos da Larus. "Trabalhamos muito com grandes arquitectos e designers externos à empresa, mas mesmo essas criações passam sempre pelos nossos designers e engenheiros. Os autores não têm de saber sobre tecnologia, nós temos. Isso permite-nos corrigir os projectos. Eles são inteligentes e entendem", explica Pedro Martins Pereira, o fundador da Larus.

Engenheiro metalúrgico de formação, Martins Pereira tem uma paixão confessa por pintura e desenho. Muitas das peças de mobiliário urbano são desenhadas por si, mas não dispensa os craques. "O arquitecto Siza Vieira é uma pessoa extraordinária no diálogo que mantém connosco. É preciso fazer-lhes entender [aos autores do projecto] que há formas erradas e correctas de construir ao nível da tecnologia e dos materiais. Depois de o arquitecto conhecer esses princípios, ele desenvolve as peças" sozinho.

A sinalética da Expo'98 é apenas um exemplo da multiplicidade de artigos produzidos em Albergaria-a--Velha. Foi desenvolvida pelo designer Henrique Cayatte, que "adoptou o lettering do Metro de Londres, considerado o melhor em termos de leitura. No entanto, esse modelo era para uma linguagem anglo-saxónica, que tem muito menos vogais do que as línguas latinas, e Cayatte teve de alterar o espaçamento entre as letras. É preciso ser muito competente para resolver pormenores que passam despercebidos à maioria", explica Martins Pereira.

Já se perguntou quanto vale uma simples papeleira implantada na rua? Pode custar um mínimo de 100 euros. O banco de jardim Axis, que custa 340 euros a unidade e está presente em muitas das artérias centrais da cidade do Porto, já vendeu 20 mil unidades desde 2004. Só aqui, a Larus vendeu 6,8 milhões de euros, em sete anos.

Não será, por isso, de espantar que a empresa tenha facturado 2,85 milhões de euros em 2010 - consolidando as contas com as fundições Alba, criadas pelo pai - e preveja um crescimento de 10% a 15% em 2011. Esta evolução deve-se, em grande medida, à exportação. No ano passado, as vendas ao exterior representavam 2,8% da produção, este ano já vai em 7% e deverá chegar aos 40% em 2012. Os mercados do centro da Europa e de África são os principais destinos, nomeadamente Angola.

A arquitectura interior do edifício da Larus é a perfeita simbiose entre o espaço dos designers e o restante backoffice com a linha de produção. Dos escritórios, desce-se uma escada para zona fabril, onde tudo é produzido sob acompanhamento de perto dos designers. "Gosto que as pessoas percebam imediatamente que estão numa empresa que desenha e também executa", explica o fundador.

Retrato

A Larus foi fundada em 1988. Situa-se em Albergaria-a-Velha. Emprega 38 pessoas, metade das quais na vertente criativa. Chega a produzir mil bancos de jardim por mês. Exporta para Espanha, Reino Unido, Bélgica, Alemanha, Áustria, Eslovénia, Angola e Emirados Árabes. Facturou 2,85 milhões de euros em 2010 - 2,6 milhões na Larus e o restante às fundições Alba. www.larus.pt

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