Os onze metros mais caros do mundo

Ganhar títulos (e dinheiro) no futebol de alto nível depende cada vez mais dos tensos desempates por penáltis. Clubes de elite sabem-no e treinam-nos com especialistas.
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A final da Liga Europa, entre Eintracht Frankfurt e Rangers, foi decidida de lá. As finais das duas taças inglesas, a FA e a da Liga, também. O último Euro, idem. A distância entre a marca do penálti e a linha de golo é - cada vez mais - decisiva. Aqueles onze metros são a diferença entre a glória e o desespero, entre milhões de lucro e milhões de prejuízo. Por isso, os clubes de elite treinam-nos cada vez mais e melhor.

Como a tensão de um desempate por penáltis não pode ser simulada, as grandes penalidades foram por muito tempo consideradas, na prática, meio intreináveis. No entanto, há métodos para combater essa suposta intreinabilidade. Em entrevista à Forbes, o psicólogo Geir Jordet, da Norwegian School of Sport Sciences, contou que tem trabalhado em formas de garantir vantagens psicológicas na hora de bater os famigerados tiros dos onze metros.

Primeiro: escolha antes, bem escolhidos, quem serão os cobradores.

Na final da FA Cup, entre Liverpool e Chelsea, o treinador dos Reds, Jürgen Klopp, chamou-os rapidamente à parte, deu breves indicações técnicas e aconchego mental a cada um e só depois fez um discurso motivador geral. Thomas Tuchel, técnico dos Blues, perguntou à última hora quem estava mais confiante e discutiu detalhes meio que em cima dos joelhos, aumentando a ansiedade de todos. Venceu o Liverpool.

Segundo: até os penáltis, tão pessoais e intransmissíveis, são cada vez mais estratégia de equipa.

Aquele mesmo Chelsea, entretanto, usou uma técnica inovadora no Mundial de Clubes, frente ao Palmeiras, quando se beneficiou de um penálti decisivo no fim do prolongamento. O capitão Azpilicueta pegou a bola, beijou-a e fechou os olhos antes de bater. Os jogadores palmeirenses, atentos, empurraram-no de leve, cochicharam-lhe uns insultos, fizeram de tudo, como mandam as regras da malandragem, para o desconcentrar. Sucede que no último momento, Azpilicueta entregou a bola ao colega Havertz, que sempre foi a primeira escolha. O alemão pôde assim concentrar-se sem distrações no penálti que, com sucesso, converteu.

Terceiro: treinar as duas formas de abordar o lance.

Os clubes de elite dedicam, a cada treino e não apenas antes de uma final ou jogo decisivo, um adjunto para as bolas paradas em geral e penáltis em particular. Todos os jogadores devem estar habilitados a escolher o plano A, escolher um destino para a bola e manter-se, determinado, em cumpri-lo, ou plano B, optar, pela célebre paradinha, se sentir frieza para tanto, e chutar só depois de fazer o guarda-redes cair para um dos lados.

Ser eficaz nos tiros de onze metros pode significar ganhar dinheiro de um instante para o outro. Mas essa, diz a ciência do futebol, é a única semelhança entre penáltis e lotaria.

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