A crise da banca chegou à Alemanha, ou melhor ficámos a saber, através de violentos shots de realidade, que a crise da banca não atinge só os países do Sul.
O que para alguns poderia ser motivo para regozijo, porque junta pobres e ricos no mesmo barco -- um raciocínio próprio dos idiocratas de Edson Athayde --, é o maior sinal de alarme, desde que estalou a crise do subprime.
Nesta semana, não houve um dia que o tema fervente não fosse o Deutsche Bank e a possibilidade de um resgate público por parte do governo de Merkel, não houve um dia em que uma autoridade não viesse a público garantir a solidez do maior banco europeu e de que, apesar da intenção dos EUA em avançar com uma multa recorde - 12,5 mil milhões de euros -, não será necessário qualquer apoio estatal.
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John Cryan, presidente do Deutsche Bank. Fotografia: Reuters[/caption]
O britânico John Cryan, que assumiu a liderança do gigante alemão há pouco mais de um ano, enviou, inclusive, uma nota aos seus trabalhadores, garantido que os rumores de resgate são infundados. Existem, diz ele, forças externas ao banco com o objetivo de prejudicar a confiança dos depositantes e investidores.
Uma semana horribilis, em que as ações atingiram sucessivos mínimos históricos, chegando a cotar abaixo dos 10 euros.
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O logo do Deutsche Bank refletido nas águas do rio Moskva, em Moscovo. Fotografia: REUTERS/Sergei Karpukhin/File Photo[/caption]
Não sabemos, hoje, o que se passa realmente no banco, neste, como no também alemão Commerzbank, que anunciou o corte de quase 10 000 trabalhadores, ou no holandês ING, que vai despedir 4000 pessoas na Bélgica. Exemplos.
O que é garantido é a profunda crise em que está metido o sector financeiro europeu. Os anúncios de cortes de custos, aos milhares de trabalhadores, são assustadores, mesmo sabendo que é este o caminho mais rápido para evitar a tragédia.
As explicações para o estado a que a banca chegou são várias. Desde o início da crise, há quase 10 anos, que vêm sendo elencadas. Umas são externas às próprias instituições, como a sonolência da economia europeia, ou as inéditas taxas de juro zero, outras são consequência de más práticas, de péssima gestão. Exemplos.
Mas há um motivo, menos falado, talvez porque seja pouco tangível. Os bancos, que em tempos chegaram a ser apontados como exemplo de inovação, esqueceram-se que não podiam ficar sentados nos mesmos processos, a tratar o negócio e os clientes agora como há décadas.
O sector faz lembrar o Twitter. Esta rede social afunda porque se esgotou nos tweets de 140 carateres, tal como os bancos pararam num modelo de lucros fáceis todos os anos, que já se evaporou há muito tempo.
Jornalista e diretora do Dinheiro Vivo