A saída de emigrantes em 2020 ficou reduzida a cerca de metade da verificada no ano anterior, com 45 mil saídas do país, de acordo com os dados apresentados nesta terça-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pelo Observatório da Emigração.
Os dados, que assentam em estimativas, comparam com um fluxo de saídas em torno das 80 mil no relatório da emigração relativo a 2019, e ficam ao nível apenas do movimento de emigrantes estimado para 2001, quando terão saído do país 40 mil pessoas. O pico de emigração deste século, até aqui, corresponde por seu turno a 120 mil saídas estimadas para 2013.
"Este relatório dá conta de uma situação extraordinária, que foi marcada pela pandemia Covid-19. A pandemia da Covid-19 implicou uma paragem das migrações internacionais a uma escala sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, restando saber se é algo que vai continuar ou é algo que em breve será ultrapassado", contextualizou Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração, durante a apresentação, transmitida a partir do Palácio das Necessidades, em Lisboa.
As restrições à mobilidade resultaram em quebras muito significativas de entradas nos principais destinos de emigração portuguesa. Mas, estas estiveram também associadas no Reino Unido, no último ano, ao brexit, com a imigração britânica a cair 58%.
No caso de Portugal, aponta o relatório hoje divulgado, a redução das saídas para o Reino Unido justifica sensivelmente metade, 51%, da descida total da emigração portuguesa no ano passado.
As quebras foram, segundo Rui Pena Pires, maiores entre os destinos de emigração fora da União Europeia, mas com escassas exceções também dentro do espaço comunitário. Apenas a Dinamarca terá aumentado o número de entradas de portugueses, mas os autores do relatório admitem que os dados possam estar inflacionados.
De acordo com Rui Pena Pires, Espanha manteve também um nível elevado de novas entradas de portugueses, o que poderá estar relacionado com a emigração para o país de descendentes de portugueses residentes na Venezuela, por um lado, e também com a retoma da construção civil no último ano, por outro.
O relatório relativo a 2020 tem como novidade, neste ano, a identificação de algumas características demográficas dos emigrantes portugueses. "São sobretudo homens, mesmo para destinos europeus", salientou Rui Pena Pires. E são também, sobretudo, jovens. "Mais de 50% (dos que saem) para os principais destinos são emigrantes que têm entre 15 e 39 anos".
Em breve, o Observatório da Emigração pretende também avançar dados sobre o tipo de trabalho realizado pelos emigrantes portugueses nos países de destino.