Pandemia leva TAP a prejuízo recorde de 606 milhões até junho

Resultado negativo do grupo justificado maioritariamente por perdas de 582 milhões na transportadora devido à covid e volatilidade no jet fuel e moeda
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Prejuízos de 582 milhões de euros em seis meses para a TAP, SA, que representam quase todas as perdas do grupo entre janeiro e junho (96%), com o grupo TAP a somar prejuízos de 606 milhões - resultados quase seis vezes piores do que os do fecho de 2019, quando o grupo fechou o ano com 106 milhões negativos, mas mostrando alguma tendência de recuperação (lucros de 14 milhões no último semestre de 2019).

Se, seguindo a tendência do último semestre de 2019, janeiro e fevereiro faziam antecipar um ano positivo para a companhia aérea portuguesa - com a TAP a somar mais 280 mil passageiros do que nesses meses do ano passado, num total de 2,4 milhões (+13,4%), com receitas de passagens a chegar aos 411 milhões de euros (+71 milhões do que em 2019) e margem EBITDA acumulada de 5,1% (+12,9 pp) -, a crise da pandemia trouxe a destruição do trabalho feito. A par da covid e também por seu efeito, a volatilidade cambial e do preço do jet fuel contribuíram também para arrasar as expectativas de um ano em que a companhia poderia voltar ao verde.

"Operação e resultados do primeiro semestre de 2020 foram significativamente impactados pela quebra de atividade verificada a partir de março, em resultado da pandemia", sublinha a TAP no comunicado enviado à CMVM, lembrando os efeitos da covid e das medidas de contenção tomadas pelos governos na economia mundial e o impacto sem precedentes no setor da aviação civil.

"A covid-19 causou enormes prejuízos à indústria de transporte aéreo em particular, com a TAP S.A. a registar um resultado líquido consolidado negativo de 582 milhões de euros no primeiro semestre de 2020, o que representa 96% do resultado líquido do primeiro semestre do Grupo TAP (consolidado da TAP SGPS), que foi negativo em 606 milhões de euros", justifica a empresa no comunicado.

Para esse resultado contribuiu o impacto da "contabilização de custos de excesso de cobertura (overhedge) de jet fuel, no montante de 136,3 milhões de euros, e diferenças de câmbio líquidas negativas de 58,0 milhões, parte dos quais sem impacto em tesouraria", junta a companhia, lamentando que "a quebra de atividade verificada a partir de março tenha mais do que eliminado a boa performance observada nos primeiros dois meses do ano, impactando muito negativamente a performance da TAP no primeiro semestre".

Num negócio em que 40% dos custos são fixos, o resultado só não foi pior graças à “rápida reação” ao nível da tesouraria e à reestruturação que a gestão privada da TAP empreendeu nos últimos anos – nomeadamente, recorde-se, dilatando o prazo médio da dívida de dois para cinco anos e secando a Manutenção e Engenharia no Brasil – que permitiu segurar a empresa até entrar a primeira tranche da injeção de 1,2 mil milhões do Estado, já em julho.

Agora, o desafio é redimensionar a TAP à procura que sairá desta crise e que a associação internacional do setor, a IATA, aponta para um prazo mais longo do que à partida se esperava. De acordo com a IATA, antes de 2024 não haverá recuperação ao nível dos valores pré-pandemia.

De acordo com as estimativas revistas da IATA para o setor (a junho de 2020), o decréscimo de capacidade na Europa em 2020 deverá ser de 42,9%, superior ao decréscimo a nível global (-40,4%). "No que se refere ao decréscimo estimado do tráfego de passageiros medido por RPK em 2020, este é de -56,4% na Europa e -54,7% a nível global. O decréscimo acentuado de capacidade e tráfego é transversal a todas as regiões", enquadra a TAP no mesmo comunicado.

Com março a ser já significativamente afetado pelas medidas de contenção adotadas pelas autoridades nacionais e internacionais, que acabaram com a procura e levaram a TAP a uma paralisação temporária, a capacidade operacional da companhia foi arrasada: "de março a junho, o decréscimo de capacidade foi de -34%, -99%, -98% e -97%, respetivamente, face aos meses homólogos de 2019".

Custos controlados

Apesar da "rápida reação", a pandemia não poupou a TAP: com voos cancelados ou muito condicionados desde meados de março, a transportadora levou menos 4,9 milhões de passageiros no semestre, uma quebra de 62% relativamente a 2019, vendo cair as receitas de passagens em 730 milhões de euros (-57,2% em relação aos primeiros seis meses de 2019) e a margem EBITDA reduzir-se para -20% (28,7 pp).

Os gastos operacionais também se reduziram, mas os 460 milhões de euros a menos na despesa (-30% do que os custos da companhia no primeiro semestre de 2019) apenas atenuaram ligeiramente as perdas brutais da transportadora, que conseguiu ainda reduzir a metade os consumos de caixa entre abril e junho graças a "iniciativas implementadas com o objetivo de conter o impacto da pandemia na tesouraria".

"A TAP atuou com agilidade e rapidez aos primeiros sinais de impacto da pandemia, adequando a capacidade ao novo cenário de procura e minimizando assim os custos operacionais com o objetivo de preservação de caixa", justifica a transportadora, especificando que o corte de capacidade, de 33,9% logo no mês de março, foi "fundamental para a diminuição dos custos variáveis, que representaram em 2019 aproximadamente 60% dos custos operacionais totais da TAP".

Outras medidas que se revelaram importantes para conter o sangramento e preservar a liquidez da empresa passam pela "suspensão ou adiamento de investimentos não críticos, renegociação de contratos e prazos de pagamento, corte de despesas acessórias, suspensão de contratações e progressões, não renovação de contratos de colaboradores a termo, bem como a adesão ao regime de lay-off simplificado e implementação de programas de licenças sem vencimento temporárias", assume a TAP. Recorde-se que só em contratos não renovados a transportadora reduziu já a sua força de trabalho em cerca de 1500 pessoas de um total de mais de 10,6 mil no final do ano passado.

"Estas medidas permitiram à TAP reduzir de forma bastante significativa o consumo diário de caixa e manter liquidez suficiente até à concretização do auxílio de Estado, mediante a celebração de um contrato de financiamento celebrado entre o Grupo TAP e o Estado português, cuja primeira tranche ocorreu em 17 de julho de 2020." Até agora, a empresa já encaixou cerca de 500 milhões de um total aprovado para apoiar a companhia aérea que pode chegar aos 1,2 mil milhões de euros.

Quanto ao plano de reestruturação - que poderá implicar a redução da frota de cerca de 110 para 80 a 85 aeronaves e a saída de muito mais colaboradores -, está a ser trabalhado para enviar a Bruxelas até 10 de dezembro, de forma a "assegurar a sustentabilidade e rentabilidade da TAP, através de um adequado planeamento de rotas e frota, da adaptação do produto TAP à realidade atual e pós covid-19, e do aumento da eficácia e da eficiência dos serviços centrais e das unidades do Grupo", sublinha a empresa.

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