O Papa Francisco, chefe da igreja católica, apelou nesta quinta-feira junto dos parceiros sociais da Organização Internacional do Trabalho a que se empenhem num "novo mundo do trabalho do futuro de condições de trabalho decentes e dignas na base da negociação coletiva, capaz de promover o bem comum".
O repto para a aposta no diálogo social foi feito na Cimeira sobre o Mundo do Trabalho da OIT, que decorre entre hoje e amanhã, e que tem como participantes também o primeiro-ministro português, António Costa, o presidente do EUA, Joe Biden, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o presidente da República Democrática do Congo, Félix Antoine Tshilombo Tshisekedi.
O líder católico recordou as fortes perdas de emprego e horas trabalhadas em todo o mundo no último ano e alertou que, na reta para a recuperação da pandemia, as sociedades correm o risco de enfrentar "um vírus pior que a Covid", a que chamou o "vírus da indiferença egoísta", com a "dinâmica de uma nova elite" a deixar para trás os grupos de trabalhadores mais marginalizados.
"Em todo o mundo, assistimos a uma perda de trabalho sem precedente em 2020. Na pressa de retornar a maior atividade económica na reta final da ameaça da Covid-19, devemos evitar fixar-nos em lucro, isolacionismo, nacionalismo, consumismo cego e na negação da muito clara evidência de discriminação sofrida pelos nossos irmãos e irmãs que são considerados dispensáveis na nossa sociedade", recomendou.
No processo de recuperação, os países não devem esquecer "o direito à organização" de que gozam os trabalhadores e o diálogo social deve abrir-se a grupos de interesse não convencionais, defendeu, aludindo às novas formas de trabalho, aos trabalhadores da economia informal e lembrando ainda a desigualdade e falta de direitos enfrentadas por muitas mulheres em todo o mundo.
Aos representantes patronais, o Papa Francisco referiu que "as capacidades empresariais são uma dádiva de deus", devendo "produzir riqueza para bem de todos".
Já ao movimento sindical, o líder católico aconselhou a que olhe "para dentro e para fora" das muralhas dos interesses que defende, procurando proteção também para os trabalhadores que ainda não gozam de direitos nem têm acesso aos mecanismos das democracias.