É o português mais parecido com um magnata do petróleo
americano. Apesar de ter nascido em França numa família já
abastada, Patrick Monteiro de Barros fez fortuna nos Estados Unidos,
para onde emigrou nos anos 70 depois de as nacionalizações o terem
afastado da petrolífera de Manuel Bullosa, a Sonap, onde era
administrador. Vinte anos depois estava de volta como acionista da
Petrogal.
Não obstante a ligação ao petróleo, é a defesa do nuclear que
mais atenção lhe tem dado por cá. Nem o desaire da Petroplus o
impediu de vir a Portugal dar entrevistas e a uma conferência em que
apontou a opção nuclear como a resposta para "o desastre
económico da política energética do governo de Sócrates".
À pergunta de Mário Crespo, na SIC Notícias, sobre os efeitos
da crise nuclear no Japão resultante do sismo e do tsunami que
atingiram o país, Monteiro de Barros responde: "O que aconteceu
no Japão foi um acidente, mas não foi nuclear. Até hoje não
morreu ninguém nem vai morrer."
Nos negócios do petróleo, as coisas sempre lhe correram bem,
pelo menos até esta semana, quando a empresa de refinação de que é
acionista e presidente não executivo foi forçada a pedir a
insolvência. Antes da Petroplus, Monteiro de Barros foi acionista da
Tosco. Esta petrolífera americana cresceu através de aquisições
que a tornaram na maior refinadora independente dos Estados Unidos.
Em 2001, a Tosco foi vendida à Philips. O negócio rendeu 7,3 mil
milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros) aos acionistas.
Patrick era um deles, mas não se soube a fatia que recebeu.
A venda cimentou a reputação de ser um dos portugueses mais
ricos, não obstante ter ficado com a fama de contar todos os tostões
quando era administrador da Petrogal. A casa que comprou no estado
americano da Virgínia é património histórico e foi desenhada pelo
presidente americano Thomas Jefferson.
Mas apesar dos projetos de milhões que apresentou nos últimos
anos, hoje terá poucos negócios em Portugal.
Monteiro de Barros foi um dos acionistas nacionais que, em 2000,
venderam a participação na Galp à italiana Eni, a pedido do
governo de então, mas também com a ajuda de uma isenção fiscal
sobre as mais-valias. O empresário foi fundador da Telecel (hoje
Vodafone) e acionista de referência da Portugal Telecom, mas vendeu.
Hoje, é administrador na holding do Grupo Espírito Santo e preside
à fundação da família Monteiro de Barros.
A parceria mais antiga nos negócios é com Thomas O'Mailley. O
empresário americano trabalha desde os anos 70 com Patrick Monteiro
de Barros, primeiro como trader de petróleo e mais tarde na Tosco.
O'Mailley foi um dos investidores iniciais do projeto de
construção de uma refinaria em Sines. O milionário americano veio
a Lisboa no seu jato privado Gulfstream, mas quando aterrou na
Portela ficou mal impressionado por não existir um corredor
exclusivo e ter de ir para a fila dos passageiros comerciais. Foi o
primeiro a desistir do negócio.
O projeto de cinco mil milhões de euros começou por ser
acarinhado pelo governo de Sócrates e do ministro Manuel Pinho. Mas
os incentivos públicos exigidos pelos promotores, sobretudo ao nível
das licenças de CO2, levaram o governo recuar. Ficou célebre a
frase do primeiro-ministro no Parlamento: o governo não compra gato
por lebre.
Não ficou sem resposta. Monteiro de Barros acusa Sócrates de não
ter honrado os compromissos assumidos. E em entrevista ao Diário
Económico contou que foi "um dos episódios mais desagradáveis
por que passei neste país".
Apesar do discurso duro - Patrick não é suave nas palavras -,
insistiu em mais um megaprojeto polémico: a construção de uma
central nuclear em Portugal. A ideia contou com a firme oposição do
governo de Sócrates. Mas nem a crise financeira nem o desastre de
Fukushima o fizeram desistir. Ainda esta semana garantiu existir
abertura do Executivo de Passos Coelho para estudar o tema.
Depois de falhada a refinaria em Portugal, o empresário investiu
na Petroplus, mais uma vez, pela mão de Thomas O'Mailley. O grupo
arrancou em 2006 com uma refinaria na Holanda e, com o apoio do fundo
americano Carlyle, comprou várias unidades, transformando-se na
maior refinadora independente da Europa.
Mas com a crise vieram os prejuízos e a banca recusou renovar o
financiamento.
Ao pedido de insolvência juntam-se suspeitas em França de
falência fraudulenta. Patrick Monteiro de Barros diz que a acusação
é inconcebível e garante que não vai abandonar a empresa, que tem
cinco refinarias a operar na Europa e emprega 2500 trabalhadores.
Monteiro de Barros sucedeu a O'Malley em 2011 como chairman, mas não
se sabe qual é o seu investimento na Petroplus.
Monteiro de Barros nasceu em 1945 de mãe francesa e pai
português. Estudou no Liceu Francês e fala várias línguas. É
casado há 47 anos com uma francesa e tem um filho.
Divide a sua vida pelos Estados Unidos, Londres e Cascais, onde
vive três meses por ano.
Mas é no mar que gosta de passar mais tempo e onde já deu
várias voltas ao mundo no seu iate. Fanático da vela, foi o rosto
da candidatura portuguesa a organizar a Taça América em 2007. Foi
mais um projeto ambicioso apoiado pelo governo, mas que Portugal
perdeu para Valência. A taça acabou por passar por Cascais em 2011.
Hoje, há um troféu de vela em Cascais com o nome dele.