Pedro Alves: "Pretendemos regenerar a gestão da Associação Mutualista"

Pedro Gouveia Alves, que lidera a Lista D nas eleições da Associação Mutualista Montepio, afirma que a sua lista está a "mexer com os poderes instalados". Eleições na dona do Banco Montepio decorrem até ao dia 17 de dezembro.
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Na corrida à liderança da Associação Mutualista Montepio, Pedro Gouveia Alves, líder da Lista D, não tem dúvidas: a sua lista está a "mexer com os poderes instalados".

Pedro Gouveia Alves, que é presidente do Montepio Crédito, apontou ainda, em entrevista por escrito ao Dinheiro Vivo, que a lista que lidera pretende "regenar" a Associação. E acusou a Lista A, liderada por Virgílio Lima, presidente da Mutualista, de representar a "continuidade".

Ao todo, são quatro as listas nas eleições para um novo mandato na Associação para o período 2022/2025. As eleições decorrem de 13 a 17 de dezembro.

A sua lista é apontada como sendo de continuidade. Concorda com esta análise?

Não posso deixar de manifestar a minha perplexidade perante esta pergunta. É certo que há candidaturas que querem fazer esquecer o passado de integrantes das administrações de Tomás Correia na última meia dúzia de anos, dispersos por várias listas. Procuram distanciar-se dele e atribuir a outros as suas co-responsabilidades. Nenhum dos candidatos da Lista D em tempo algum, integraram a governação da Associação Mutualista. A continuidade é de quem está na gestão atual, é da Lista incumbente, que no seu programa a assumem. Para a Lista D, consideramos que oferecer continuidade aos Associados é um vazio de ideias e um perigo: não queremos a continuidade da perda de valor a que temos assistido. Por isso, o lema da Lista D é Valorizar o Montepio.

Outras listas fizeram algumas críticas e acusações em relação à Lista que lidera. Como vê essas acusações/críticas?

Sem as especificar não posso responder e também não tenho estado atento a criticas de campanha, uma vez que estamos focados na construção do futuro da Associação Mutualista Montepio. Nos últimos meses, percorremos Portugal de norte a sul e ilhas e falámos com milhares de associados. As críticas que recebemos dos associados foram relativas à inoperância da gestão atual e ao facto de os associados não serem escutados. Alguns souberam o que é mutualismo pela primeira vez. Sei que estamos a mexer com os poderes instalados e com a dita "continuidade". Porque pretendemos regenerar a gestão da Associação Mutualista. Somos um grupo de profissionais que quer, pela primeira vez, profissionalizar a gestão da Associação Mutualista, como a maior entidade da Economia Social em Portugal.

Propõe que haja uma garantia de Estado para a limpeza de créditos problemáticos no Banco Montepio. Entende que haveria abertura por parte do Estado para esse tipo de iniciativa?

Propomos que haja mecanismos que permitam atrair investidores para o financiamento de um veículo que adquira os ativos improdutivos do Banco. Há mercado de investimento para este tipo de solução. O objetivo é que o banco chegue a um rácio de NPE inferior a 5% conforme as orientações da autoridade bancária europeia. Cremos que isso será possível com a utilização de mecanismos de mercado. No limite, e para os ativos que necessitam de mais tempo para serem recuperados, teremos de encontrar todos os mecanismos possíveis para melhorar o apetite dos investidores. No fim da linha, uma garantia pública pode ser uma solução, mas que nunca implicará onerar os contribuintes, pois as garantias têm um preço.

Vê o Banco Montepio ou o grupo a necessitar de algum tipo de ajuda/injeção de capital em 2022?

Não cremos que haja essa necessidade, atendendo ao perfil de negócio e à dimensão do Banco.

Nos últimos dias surgiram críticas e notícias sobre salários na administração da Associação. Defende a redução de remunerações?

A ser verdade (não sei porque os valores da Associação Mutualista não foram publicados pela sua gestão), as atuais remunerações dos atuais administradores são excessivas. Defendemos uma redução dos salários fixos da administração da Associação Mutualista, de forma inequívoca. Uma IPSS não pode pagar os valores que vieram a público - 29 mil euros para o seu presidente e 24 mil euros para os vogais, independentemente de apresentarem resultados ou não. Tanto mais quando a Associação apresenta o perfil de problemas que tem pela frente para resolver.

Quanto aufere atualmente no Grupo? Acumula algum tipo de remunerações?

Aufiro 12 mil euros mensais por exercer funções de presidente executivo do Montepio Crédito, e 6 mil euros enquanto administrador não executivo do Banco Montepio, um total mensal de 18 mil euros, igual à remuneração dos administradores executivos do Banco. Os valores estão publicados nos Relatórios e Contas de ambas as entidades. Apesar de os resultados do Montepio Crédito serem consistentemente positivos em milhões de euros ao longo dos últimos anos, não aufiro qualquer bónus ou participação de resultados.

Vê o Grupo a permanecer fiel ao mutualismo e à economia social ou pensa que o Grupo se pode abrir a outros investidores e negócios?

O Mutualismo é a essência do Montepio. A Associação Mutualista tem estado ausente do lugar que deve ocupar na sociedade: o verdadeiro Farol da Economia Social, uma vez que é a maior Associação que emerge da sociedade civil portuguesa. Nesse sentido, a condução da gestão do Grupo deve ter sempre presente que as linhas de negócio têm por objetivo servir os Associados gerando valor para os Associados. Essa é a prioridade.

O número atual de associados é um bom número ou vê que há espaço para conquistar mais associados? Como?

Crescer será sempre o reflexo do reconhecimento da Associação Mutualista como uma Instituição que serve os portugueses. Há espaço para crescer, mas para isso as pessoas devem reconhecer valor e vantagens na Associação na Proteção e Previdência. Ficamos preocupados com o peso das Modalidades de Capitalização nas novas subscrições (60%), que não fidelizam os Associados nem têm espírito solidário. Também ficamos preocupados com o facto de muitos Associados não saberem sequer que o são ou não se envolverem na relação com a Associação. A Associação tem 600 mil Associados, e quase outros tantos foram perdidos nos últimos 25 anos, por falta de relação. É um longo trabalho de futuro que vamos fazer.

Como vê atualmente o setor da banca em Portugal? Quais as suas perspectivas para o setor?

Tem havido um caminho que tem sido percorrido de forma notável, desde a crise financeira. Hoje, o setor apresenta-se mais resiliente e capitalizado. Os desafios passam pela capacidade de reinventar o negócio e aproveitar a evolução tecnológica nos temas da digitalização como forma de melhorar a eficiência e os níveis de serviço aos Clientes. Num contexto em que os serviços bancários tendem a ser todos iguais, o Montepio tem aqui uma oportunidade enorme de se diferenciar uma vez que a relação com o Mutualismo, através das pessoas e para as pessoas, é de grande proximidade e de conhecimento das necessidades de cada um.

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