Contrariado, escrevo mais um texto, sobre a perda de um grande homem, que morreu, mas que deixou bem vivas as suas marcas.
Foi nas estradas que Pêquêpê, ao volante do seu BMW M3, começou por afirmar a sua marca. Há quem diga que a marca-acrónimo-de-si-próprio terá sido a forma mais discreta que encontrou para se afirmar numa família demasiado conservadora.
Sempre esteve ligado aos recursos da terra e à velocidade, mesmo quando o seu negócio no Brasil foi agrícola, acelerou dos 20 000 pés de café aos três milhões; nessa altura ainda financiado pelo pai, que sempre acreditou na sua capacidade empreendedora.
Fez-se, em vez de navegador sem rumo, um industrial focado, de espírito lutador, corajoso e orgulhoso da sua capacidade intuitiva de escolher os pilotos da sua frota planetária.
De Diogo da Silveira, atual líder da The Navigator Company, disse-me que quando o escolheu tinha mais candidatos, que fez o processo de seleção até ao fim, mas que desde o primeiro momento soube que era a ele quem queria para conduzir a sua frota mais preciosa.
Da sua marca Navigator (que tive o privilégio de criar duas vezes), disse-me que sendo um industrial e, como tal, pouco marquista, não tinha como estar certo de que fosse esse o caminho, mas se estivéssemos certos na recomendação, que a marca seria uma grande mais-valia para o futuro da sua firma; dos descobrimentos, digo eu; uma marca orgulhosamente portuguesa, desenhada sobre a esfera armilar de todas as nossas ambições.
No lançamento da The navigator Company, visivelmente orgulhoso, afirmou que os negócios nem sempre lhe davam a mesma adrenalina que os automóveis, mas que naquele momento se sentia ao volante de uma grande máquina e de volta à adrenalina de outros tempos.
Tive a honra de participar como orador numa conferência da Semapa, no seu imaculado Ritz; conferência essa onde Pedro confiou a liderança do seu grupo a João Castello Branco e onde me ficou uma nota muito especial do seu amor, não público, a Portugal.
Quando teorizei sobre o momentum do país e sobre o célebre episódio no Cais das Colunas, onde o povo se manifestou e disse ao rei: Senhor, Londres é aqui. Logo Pedro, o nacionalista, me interpelou, bem-humorado, dizendo que esperava que isso não acontecesse outra vez, para que não se perdesse a sua tão querida Lisboa.
Pedro morreu bem amado pelos que o conheceram, mas publicamente muito mal explicado, como seus eucaliptos. Morreu o industrial do papel e do cimento, que tanto queria para Portugal um futuro de betão. Um Navigator, discreto, cujo papel foi muito além do seu papel.
Presidente da Ivity Brand Corp e da Associação Portugal Genial