Pela democracia…

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Na última crónica neste jornal mostrámos que quase tudo o que acontece na sociedade contemporânea fica registado nas redes informáticas em resultado da generalização da utilização de computadores, telemóveis e similares, da utilização generalizada das redes sociais pelos cidadãos ꟷ connosco sistematicamente a aceitar, como não podíamos deixar de o fazer, os cookies ꟷ e dos modelos de inteligência artificial.

Podemos simplificadamente dizer que as informações existentes são de três tipos: (1) micro: neste tipo estamos a considerar essencialmente ꟷ para os objectivos que aqui analisamos ꟷ as informações sobre cada cidadão (ex: número de «amigos» e número de «likes», e em quê, de cada utilizador) ; (2) macro ꟷ informação global ꟷ (ex: número de cidadãos que fizeram determinada acção); (3) misto ꟷ enquanto dados em si ꟷ (ex: na rede social X1 há Z1 coleccionadores de K1 como são os casos de x1 x2 ... xn), ou como hipótese (ex: divulgando apenas os dados de conjunto mas sendo possível, se o desejar individualizar).

Em todo o tipo de dados há aspectos positivos (ex: encontro de familiares perdidos, idas para centro da cidade e estradas utilizadas) e negativos (ex: número de notícias falsas e sua velocidade de leitura e circulação), geral ou especificamente, mas se pretendermos manter a democracia e a liberdade individual, tal como a conhecemos, é fundamental que os dados divulgados sobre cada um dos cidadãos dependa exclusivamente da sua própria vontade, dependa dos visados.

Tal não é o que acontece actualmente pelo que se exige uma intervenção política adequada, um controlo e fiscalização da utilização que as redes sociais fazem dos dados dos cidadãos ꟷ que eufemisticamente designamos por regulação. Na nossa opinião esta exigiria:

a) Maior conhecimento ao longo da vida por parte de todos os cidadãos sobre as redes sociais e a cibersegurança; crescentemente importante para todos nós, o que provavelmente exige modificações em todos os anos de ensino (incluindo a crescente interdisciplinaridade no ensino universitário) e o ensino ao longo da vida.

b) Um pagamento, mesmo que pequeno, da nossa utilização das redes sociais, pois só sendo clientes podemos exigir o controlo efectivo das mesmas.

c) Apelando à competência e à liquidação de um determinado tipo de conflitos de interesse ꟷ ­­por conhecimento do meio, amizades, simpatias e antipatias ꟷ a escolha aleatória dos responsáveis pelo núcleo central desta actividade (analisar as redes sociais, informar sobre os dados utilizados de cada um dos cidadãos e ver o que cada um destes aceita) entre os especialistas disponíveis para tal actividade (com enorme probabilidade de não incluir nenhum político).

d) Encontrar as formas internacionais de proceder a estas actividades.

Enfim, defender a democracia exige muito, mesmo muito, trabalho!

Carlos Pimenta, sócio fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF)

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