Pensar o Ensino Superior, iluminados pela Reforma Pombalina

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"Criar para renovar": é sob este mote que a Universidade de Coimbra (UC) está a celebrar, ao longo de todo este ano de 2022, os 250 anos da Reforma Pombalina, um momento transformador que promoveu profundas alterações no ensino universitário português, estando na génese do que são hoje a Faculdade de Ciências e Tecnologia, a Imprensa, o Jardim Botânico, o Museu da Ciência e o Observatório Geofísico e Astronómico da UC.
Se hoje vos falo desta efeméride - que recorda uma verdadeira revolução conceptual, que marcou a abertura da academia à ciência e a novos métodos de lecionar - não é por vaidade no papel da Universidade de Coimbra (então a única instituição de ensino superior do mundo lusófono) nesse processo transformador e na evocação desse legado. É porque acredito que ele nos pode iluminar, 250 anos depois, na discussão sobre os desafios que este setor enfrenta.

Num mundo a mudar muito drástica e rapidamente - e onde pandemia, guerra, crise energética e inflação (sem esquecer as questões ambientais agora votadas ao esquecimento mediático) vieram confrontar-nos com uma série de problemas que pareciam impossíveis há meia dúzia de anos -, as instituições de ensino superior enfrentam ainda desafios bem particulares. A juntar ao subfinanciamento crónico, ao anunciado inverno demográfico (com natural quebra na faixa etária 18-24 anos) e à séria questão do emprego científico, temos agora em cima da mesa uma decisão absolutamente estrutural para o país: devemos ou não manter o sistema binário?

Pelo seu potencial transformador (para o bem e para o mal), esse é um assunto que merece debate sério, imparcial e aprofundado - características que não reconheço na discussão promovida até ao momento. Universidades e institutos politécnicos têm missões distintas e diferenciadoras, que não podem ser diluídas de forma artificial. E nenhuma decisão deve ser tomada à pressa e de ânimo leve, sem pensar nas consequências e nos danos colaterais.

É preciso responder cabalmente a todos estes desafios - e aos novos contextos que possam surgir - para garantir que cada instituição de ensino superior mantém a sua relevância social, como motor de formação, progresso e inovação, em constante partilha de conhecimento com a sociedade. Que o potencial transformador da Reforma Pombalina continue a servir como fonte de inspiração para todos nós!

Reitor da Universidade de Coimbra

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