No mês em que se assinala o Dia Internacional das Micro, Pequenas e Médias Empresas, analisemos a sua relevância nas economias europeia e portuguesa..Segundo dados do Eurostat, as PME europeias representam 99% do tecido empresarial e quase metade da força de trabalho. Em Portugal, segundo dados da Comissão Europeia, as PME representam 99,9% do tecido empresarial português (923 099 empresas) e a sua força de trabalho representa 76,0% da população ativa portuguesa. Além disso, o valor adicionado à economia pelas PME representa 67,7% (ou seja, 61,2 biliões de euros)..De acordo com o World Economic Forum, as PME mostraram ser mais resilientes à disrupção da pandemia covid-19 comparativamente às grandes empresas, mas, apesar do ímpeto da transição digital trazido pela pandemia, as PME ainda tendem a ficar para trás na adoção tecnológica. Investir na transformação digital significa otimizar a sua preparação para o futuro e para um crescimento sustentável..Começando pela resiliência, as PME têm menos canais de comunicação e o processo de tomada de decisão é mais simples do que nas grandes empresas. Esta agilidade é essencial à rápida reação e à adaptabilidade que os tempos de grande incerteza que vivemos exigem. Muitas PME, durante a pandemia, mudaram rapidamente de modelo de negócio; outras são exemplares na forma como adaptaram as suas cadeias de abastecimento aos desafios trazidos pela guerra na Ucrânia..Naturalmente que a tecnologia é um propulsor importantíssimo para a eficiência e para ganhos de produtividade. E é nesta área que as PME estão ou mais relutantes ou têm escassez de recursos para acompanhar as grandes inovações tecnológicas como a indústria 4.0 ou a Inteligência Artificial. Avançar a passos largos com a adoção tecnológica é agora essencial para se alinharem com as grandes empresas ao simplificar as suas operações, aumentar o lucro e expandir mercados..A Comissão Europeia aponta algumas das "forças" de Portugal. O nosso país é um dos países com melhor desempenho em empreendedorismo na União Europeia. Além disso, o Flash Eurobarometer 498 de 2021 reflete uma melhoria quanto aos produtos e serviços verdes - as PME já oferecem ou pretendem oferecer este tipo de produtos e serviços nos próximos dois anos aumentaram de 39% para 48% (a média europeia é 43%). Há, por isso, muitos motivos de orgulho nas nossas PME..Quais são, então, os desafios que as nossas PME enfrentam?.O financiamento continua a ser um desafio, principalmente em termos de capital próprio, embora se verifiquem melhorias. Não há incentivos ao financiamento por via de capitais próprios, verificando-se ainda discrepâncias nos incentivos face ao financiamento bancário. Deste modo, a otimização do contexto regulatório, a redução dos custos associados à presença no mercado de capitais e a simplificação dos critérios de acesso e de manutenção nesses mercados são cruciais para a agilidade e crescimento das PME..As PME necessitam também de melhorar a sua cultura empresarial: boas práticas em governance, gestão e sistemas de controlo de gestão. Nota-se igualmente nas PME um deficit no investimento no desenvolvimento e na formação das pessoas nas áreas da gestão, liderança, inovação, gestão da mudança, transformação digital entre outros..O sistema fiscal é outro grande desafio. É essencial melhorar o enquadramento fiscal dos processos de concentração e de reestruturação empresarial. É importante criar incentivos ao financiamento com recurso a capitais próprios e consolidar a estrutura de balanço de empresas descapitalizadas, garantindo a neutralidade fiscal no tratamento de financiamento por dívida e por capitais próprios. É igualmente importante simplificar os processos fiscais da internacionalização, abrindo os horizontes para o crescimento das empresas..Em suma, as PME têm um papel crucial na economia, pela resiliência e capacidade de adaptação aos desafios e às incertezas, como a pandemia e a guerra. No entanto, estão a ficar para trás em áreas como a adoção tecnológica, as práticas de gestão modernas, o desenvolvimento das pessoas e equipas e o acesso a financiamento..É, pois, o momento de, do lado das PME, perceberem os riscos que correm por não estarem a abraçar aqueles desafios e, do lado dos governantes perceberem a importância da promoção de políticas que permitam ultrapassar os obstáculos identificados. E, é bom que façamos isto bem, pois estamos a falar da esmagadora maioria da nossa economia..Patrícia Teixeira Lopes, vice Dean da Porto Business School