O peso dos salários das administrações públicas nas remunerações totais da economia portuguesa afundou, no final do ano passado, para 22,9%, o maior recuo de sempre, isto é, desde a série estatística que começa em 2011, segundo o boletim estatístico do emprego público relativo ao segundo semestre de 2022, que foi publicado esta terça-feira..Depois dos picos, de cerca de 28%, atingidos no quarto trimestre de 2011 e 2013, a importância dos vencimentos dos funcionários públicos nos salários em geral foi regredindo progressivamente, ficando em 22,9%, no final do ano passado. Ainda assim, Portugal continua acima, em 1,4 pontos percentuais, do rácio da média da União Europeia (UE), que ficou em 21,5%. "Desde dezembro de 2011, segundo a série de contas nacionais, Portugal tem apresentado um rácio das remunerações das administrações públicas nas remunerações do total da economia acima da média estimada para os países da UE", de acordo o mesmo relatório..Mas esta diferença tem vindo a diminuir. Por exemplo, no início da série, em 2011, ano da entrada da troika em Portugal, os salários da função pública nos 27 Estados-membros representavam, em média, 23% das remunerações totais, enquanto que, em Portugal, esse rácio era de 28%, uma diferença de cinco pontos percentuais, que agora se reduziu substancialmente para 1,3 pontos..Em relação ao peso das remunerações pagas pelo Estado na criação de riqueza no país, verifica-se igualmente um recuo. O boletim do emprego público mostra que, em 2021, os salários representavam quase 12% do PIB a preços correntes, importância que caiu, no final do ano passado, para 10,8%. Ainda assim, é superior em 0,7 pontos percentuais relativamente à média da UE. "Dos 27 países da UE, 20 apresentavam um rácio das remunerações das administrações públicas no PIB superior à média estimada para a UE", sendo que Portugal se posiciona em 12.º lugar no ranking dos Estados-membros que superam a média europeia relativamente ao peso dos salários no PIB. Em primeiro, está a Dinamarca, país em que os ordenados do Estado representam quase 14% do PIB. Finlândia e Bélgica, com 12%, completam o pódio dos estados que melhor remuneram os funcionários públicos..A retribuição base média mensal bruta registada em janeiro deste ano subiu 4,5% ou 70 euros, em termos homólogos, para 1619,6 euros, segundo a última síntese estatística do emprego público. Já o ganho médio mensal, que inclui prémios e subsídios, cresceu 4,9% ou 93,2 euros, face a janeiro de 2022, para 1910,3 euros. Nas duas situações, verificam-se aumentos muito aquém da inflação média anual apurada para 2022, de 7,8%. Há, por isso, uma quebra real média mensal dos ordenados de 51 euros ou de 3,3%, segundo as contas do Dinheiro Vivo com base nos dados da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP)..O novo boletim publicado esta terça-feira analisa a relação entre o salário base e os suplementos remuneratórios no conjunto dos ganhos totais mensais. Excluindo os trabalhadores colocados no estrangeiro, os professores e os trabalhadores do Fisco são os que ganham menos prémios ou complementos. Tanto num caso como no outro, 95,6% e 92,3% do rendimento provém do ordenado base. Em sentido oposto, bombeiros, polícias municipais, médicos e diplomatas revelam que uma parte significativa do ganho total é paga através de prémios salariais. No caso de bombeiros e polícias municipais, os complementos representam 35,7% da remuneração total. Os médicos ganham 31,3% em subsídios e os diplomatas 27,4%.