Petróleo. Galp beneficiada com nova lei de exploração no Brasil

Analistas acreditam que Galp pode ter vantagens indirectas com lei que permite que a Petrobras escolha em que poços de petróleo quer investir.
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A nova legislação sobre a exploração de petróleo no Brasil traz vantagens à Galp, acreditam os analistas contactados pelo Dinheiro Vivo.

Em causa está uma nova lei, aprovada pelo parlamento brasileiro, que permite que a Petrobras tenha direito de preferência na escolha dos poços de petróleo onde quer investir, já não obrigando a petrolífera brasileira a estar em todas as explorações e abrindo caminho a investimento repartido entre petrolíferas estrangeiras.

A Petrobras é parceira da Galp nos poços de petróleo que explora no Brasil - e de todas as empresas estrangeiras que queiram investir na exploração petrolífera naquele país. A empresa estatal era obrigada a ter uma participação de 30% em qualquer consórcio internacional que tivesse exploração no pré-sal.

A lei, aprovada na passada semana, alivia as contas da Petrobras, a sofrer com uma forte crise financeira num Brasil em recessão e onde são escassos os recursos para explorar as reservas de petróleo e gás natural. Muitos investimentos estavam atrasados por falta de capacidade financeira da empresa.

Os analistas contactados pelo Dinheiro Vivo acreditam que a alteração legislativa será, pelo menos indiretamente, benéfica para a Galp.

"Apesar da perda de monopólio da Petrobras, que beneficiava a Galp, o facto de a empresa ter direito de preferência protege os interesses das duas petrolíferas, apenas não estão pressionadas para participar em tudo, fator que confere alguma flexibilidade financeira necessária neste momento", diz ao Dinheiro Vivo Eduardo Silva, gestor de ativos da XTB.

"Parece pouco lógico ter os campos por explorar por falta de capacidade quando existem outros 'players' dispostos a assumir a responsabilidade. Vai ao encontro da estratégia político\\económica de recuperação financeira lógica no Brasil", acrescenta o especialista, lembrando que multinacionais como a Statoil ou a Shell "já estão no terreno para avançar o mais rapidamente possível para a assinatura de contratos, principalmente com a recuperação do petróleo".

O sobreendividamento da Petrobras estava a comprometer a assinatura de novos contratos, lembra o especialista, pressionando a empresa a entrar em explorações onde poderia não estar interessada.

"A nova lei protege a Petrobras na medida em que terá sempre prioridade para entrar em qualquer projecto. Só se a petrolífera brasileira não tiver capacidade ou interesse, é que outras empresas poderão avançar com a exploração ficando sob obrigação de pagar 'royalties', que irão ajudar a financiar a recuperação económica do Brasil", acrescenta Eduardo Silva.

Já a equipa de research do BiG defende que "a notícia acaba por ser ambivalente, no sentido que a Galp – pelo seu passado histórico e ligações culturais – acaba por ser um parceiro lógico da Petrobras, pelo que a crescente abertura do mercado a novos players poderá colocar alguma restrições no processo de novas atribuições de licenças de exploração no Brasil".

Nestes processos a Galp concorria sempre em conjunto com a Petrobras, através de uma participação minoritária. Contudo, os analistas do BiG defendem que a petrolífera portuguesa, devido aos problemas financeiros e dificuldades de investimento da Petrobras, "beneficiará da aceleração do processo de decisão na atribuição de licenças no setor petrolífero no Brasil, esperando-se um incremento da eficácia dos projetos de investimento em curso e no futuro".

Contudo, a petrolífera portuguesa, para "maximizar os ganhos que advêm desta decisão terá de flexibilizar também a sua estratégia no Brasil - visando encontrar novas parcerias de investimento num sector altamente competitivo e capital intensivo". O investimento pode, assim, ser partilhado e a utilização de novas tecnologias desenvolvidas pelas multinacionais também pode ser aproveitado pela Galp,

Uma nota do BPI sobre o tema refere que "a Galp e a Repsol terão, pelo menos, benefícios indiretos desta mudança devido a uma maior visibilidade de investimento no Brasil, um menor risco e uma redução da dependência da Petrobras tendo em conta os seus recursos limitados, assim como o potencial para fusões e aquisições".

Um estudo da Wood Mackenzie estima que existam 28 descobertas de petróleo na zona do pré-sal, na Bacia de Santos, até 2035 e, com a alteração legislativa, várias empresas podem juntar-se para reduzir os riscos e custos de exploração.

A velocidade de exploração dependerá da rapidez com que forem atribuídas as licenças, diz a mesma consultora. O ministro da Energia e Minas fez saber que vai divulgar o calendário para licenciamento futuro no início de 2017 com esta mudança de política.

A produção de petróleo e gás natural em agosto bateu o recorde pelo terceiro mês consecutivo, chegando a quase 3,3 milhões de barris por dia, segundo os últimos dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. A produção de petróleo foi de aproximadamente 2,609 milhões de barris por dia, um aumento de 1,1% face a julho e de 2,4% em relação ao mesmo mês em 2015. A produção de gás natural chegou aos 108,8 milhões de metros cúbicos por dia, um aumento de 1,5% face a Julho.

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