PGM quer saber se participação do Estado nos CTT viola regras da UE

Empresa concorrente argumenta que privatização dos CTT ocorreu no âmbito da liberalização das regras do setor, por imposição de Bruxelas.
PGM quer saber se participação do Estado nos CTT viola regras da UE
Gerardo Santos/Global Imagens
Publicado a

A Premium Green Mail (PGM) receia que a compra de ações dos CTT pelo Estado, por intermédio da Parpública, viole as regras da União Europeia (UE), nomeadamente quanto à liberalização do setor, que em Portugal se verificou a partir de 2012 e culminou com a privatização dos Correios em 2014.

Em comunicado, a PGM considera que a liberalização do setor postal "está ameaçada" e, por isso, defende "a cabal averiguação" sobre o caso da aquisição de ações dos CTT pelo Estado. A empresa diz estar a estudar o caso para perceber "se a recente intervenção do Estado Português de compra das ações dos CTT poderá constituir uma potencial violação das normas da União Europeia".  

Para a empresa liderada por Ana Serrabulho, a operação de mercado que resultou na compra de 0,24% da participação acionista dos CTT pelo Estado "poderá constituir mais uma situação" que penaliza "a concorrência, os consumidores, os contribuintes, sejam eles particulares ou empresariais, e inclusivamente o próprio Estado Português (enquanto cliente de relevo do serviço postal universal)".

"Relembramos que, por imposição das regras da UE, os serviços postais foram sujeitos a um processo de liberalização, com o objetivo de colocar fim aos regimes de monopólio, promover o desenvolvimento dos mercados, estimular a concorrência, o seu surgimento e o seu desenvolvimento, beneficiando consumidores e a sociedade no geral", adianta o comunicado da PGM.

Não obstante, prossegue a empresa, os CTT, enquanto empresa concessionária do serviço postal univeral, continuam "a beneficiar de um conjunto de vantagens exclusivas, de um verdadeiro e efetivo regime de privilégio, dos quais os seus concorrentes não beneficiam, inviabilizando, à nascença, toda e qualquer liberalização e dinamização de mercado e concorrência efetiva, como sejam.

A PGM, cuja quota de mercado não chegará a 10% (CTT têm mais de 80%), tem sido bastante ativa e vocal nas criticas à operação dos CTT, no âmbito do serviço universal. Em outubro de 2023, este operador postal processou a Autoridade Nacional de Comunicações por esta não ter avaliado queixas da PGM relativas aos CTT.

No ínicio deste ano, o Jornal Económico noticiou que o anterior Governo, sem o divulgar, instruiu a Parpública a comprar ações dos CTT através de um despacho do então ministro das Finanças João Leão. O Governo tê-lp-á feito no âmbito das negociações com o BE e com o PCP para a viabilização do Orçamento do Estado de 2021. Os bloquistas garantiram já não ter tido conhecimento dessa intenção, enquanto o PCP, que defende a nacionalização da empresa, admitiu ter sido informado mas que não valorizou a vontade do Executivo. O Governo admitia adquirir até 13% do capital dos CTT.

O Governo acabou por adquirir apenas 0,24% do capital dos Correios, uma percentagem que não obrigava a qualquer comunicação pública, segundo as regras do regulador do mercado de capitais.

Os CTT foram privatizados entre 2013 e 2014 pela governação PSD/CDS-PP, durante os anos da assistência financeira da Troika a Portugal.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt