Foi há 25 anos que Dorina Lindemann iniciou o seu projeto de vinho na Quinta da Plansel, em Montemor-o-Novo, uma propriedade de 100 hectares comprada pelo pai, Hans Jörg Böhm, em 1978, para ali se dedicar ao estudo da vinha e das castas portuguesas. Mas a ligação da família ao vinho, através de uma das maiores empresas de importação e exportação na Alemanha, tem já mais de 400 anos. E promete continuar, já que Dorina tem duas filhas, Júlia e Luísa, que a ajudam na empresa, a primeira dedicada ao marketing e a mais nova à enologia e à gestão.
Aliás, os vinhos da Quinta da Plansel são o resultado da teimosia de Dorina Lindemann e da necessidade de se rodear de mulheres para conseguir levar o projeto por diante. Mas já lá vamos. Tudo começa, na verdade, com um naufrágio em Cascais, do jovem Hans Jörg Böhm, que pretendia dar a volta ao mundo, mas acabou sem barco e sem passaporte, o que obrigou a ficar em Portugal, durante algum tempo, para tratar das burocracias necessárias, e lhe permitiu conhecer o país e apaixonar-se.
De tal modo que, depois de se formar e de comprar uma casa em Colares, Sintra, para onde vinha sempre que podia, acabou por se mudar para o Alentejo, para aí se dedicar ao estudo da viticultura, apostado em melhorar a qualidade das castas nacionais. Com Colaço do Rosário, habitualmente designado como "o pai dos vinhos alentejanos" e que criou, na Fundação Eugénio de Almeida, o primeiro Pêra Manca, desenvolveu um intenso projeto de investigação que levou à identificação de mais de 380 castas autóctones em Portugal. Chegou mesmo a publicar "O grande livro das castas", uma obra que se mantém como uma referência na área.
A Plansel (que resulta da junção das palavras planta e selecionada), comprou-a em 1978. A filha, Dorina, vinha ajudar o pai sempre que podia e foi-se apaixonando pelo mundo do vinho. Estudou enologia na Hochschule Geisenheim University, num curso onde eram duas mulheres e 98 homens, e, em 1993, mudou-se para Portugal com o marido, também ele enólogo, e que criou uma empresa de serviços ao agricultor, complementar ao negócio de viveirista do sogro. Em 1997 nasce a Quinta da Plansel, dedicada à produção de vinhos, num mundo de homens pouco dados a acatar ordens de uma mulher.
"Foi muito difícil. Todos os dias tinha que pedir ajuda ao meu marido, porque ninguém fazia o que eu queria, faziam tudo ao contrário porque achavam que sabiam mais. Como eu trabalhava na parte da investigação com o meu pai conhecia muitas mulheres e desafiei uma delas, a Florbela, que falava um bocadinho de alemão e me ajudava com o português, a trabalhar comigo. Estivemos sozinhas nesta adega até 2000", explica Dorina Lindemann. Só depois começaram a chegar reforços, designadamente o Nelson Rolo, hoje enólogo da Ervideira, ou o Carlos Ramos, que até hoje se mantém na empresa. "É um dos melhores enólogos no mercado e o meu braço direito, crescemos juntos nestes últimos 15 anos, e a equipa foi-se formando. Sempre tivemos muitas mulheres, mas hoje já é meio-meio", refere, lembrando que, embora o mundo do vinho continue a ser dominado por homens, há cada vez mais mulheres a dar cartas no mercado.
E as suas filhas, Júlia e Luísa, hão-de ser exemplos disso. Júlia, a mais velha, licenciada em Marketing, está já a trabalhar na empresa, assegurando a organização de provas e eventos, gestão de redes sociais, etc., e Luísa, formada em Enologia e a frequentar um master em gestão, adora os vinhos e as atividades no campo. "Complementam-se bem", diz a mãe.
No próximo sábado, a Plansel receberá no Alentejo algumas centenas de convidados, para assinalar os 25 anos da empresa, que hoje produz cerca de 400 mil garrafas ao ano, essencialmente de monocastas, e fatura cerca de dois milhões de euros. A aposta nos monocastas também não foi fácil.
"Quando, em 2001, lancei os primeiros vinhos, o 100% Touriga Nacional e o 100% Tinta Barroca, foi uma guerra no mercado. Toda a gente trabalhava em blends - vinhos de lote - e ninguém me queria comprar uma garrafa. Como tinha muitos amigos na Alemanha com garrafeiras, comecei a organizar provas e a fazer nome lá fora. Ainda hoje, a Alemanha vale quase 600 mil euros nas nossas vendas", explica Dorina.
Hoje, os portugueses também já dão valor aos monocasta. O mercado nacional, que há cinco anos não ia além dos 25% das vendas, hoje assegura já metade da faturação da Plansel. Canadá, EUA, Brasil, Taiwan e Japão, além dos mercados europeus, são destinos preferenciais da marca, que aproveitou a pandemia para investir no enoturismo, o qual espera vir a representar, já este ano, 10 a 15% da faturação, e na sustentabilidade, com a instalação de painéis fotovoltaicos. Em preparação estão também investimentos na vinha, tendo em vista reestruturar 12 hectares e plantar mais cinco. Tudo de castas autóctones. "Pouca gente sabe que Portugal é o berço da vitis vinifera mundial. Nós temos as melhores castas do mundo", garante. A meta é chegar a uma produção anual de 600 mil garrafas.
Para assinalar os 25 anos, a Plansel vai lançar uma edição limitada de duas mil garrafas de um blend dos melhor vinhos das últimas seis colheitas. São duas mil garrafas, numa caixa especial, que terão um preço de venda ao público de 90 euros.