Por uma rede de mobilidade automóvel partilhada, integrada e inteligente

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No total, estima-se que existam hoje mais de 1.4 mil milhões de veículos particulares, a esmagadora maioria dos quais (e apesar dos progressos dos últimos anos) poluentes, emissores de CO2, micropartículas e grandes consumidores de combustíveis fósseis. Para sustentar toda esta imensa massa circulante é preciso sustentar uma gigantesca estrutura rodoviária, estacionamento, manutenção e logística que transforma este sector da economia num dos que maior peso tem nas alterações climáticas e num dos maiores obstáculos para a transição para uma economia verde e mais amiga do ambiente.

As pessoas habituaram-se de tal forma ao uso destes veículos que, para muitas, os confundem com a sua própria independência e autonomia pessoal razão pela qual mesmo se a oferta de transportes públicos for aumentada de forma exponencial e o preço descer ou se o seu uso for gratuito muitos continuarão a recorrer apenas ao transporte individual. O factor psicológico joga assim, aqui, um papel importante mas se for possível resolver este factor e se nos focarmos no serviço que se pretende obter: a mobilidade individual ou familiar podemos obter o mesmo serviço sem ter que a propriedade desses meios de mobilidade e de forma mais barata, eficiente e com menor impacto nas alterações climáticas.

Para cumprir essa promessa temos que ter uma rede ampla e diversa de veículos partilhados que esteja integrada (podendo existir vários fornecedores desse serviço: públicos e privados) e que assente num bom sistema de processamento de dados de geolocalização e utilização.

Uma rede integrada de mobilidade partilhada permitiria tirar das ruas, parques de estacionamento e bolsos das famílias os carros próprios que, na maior parte do tempo, estão parados na via ou em parques de estacionamento: por vezes dias ou semanas seguintes e, mais frequentemente, funcionando durante apenas algumas dezenas num dia de 1440 minutos.

Um sistema inteligente, que integrasse todas as redes partilhadas, desde bicicletas (vários operadores: como a GIRA e a Bolt), trotinetes (Bolt, Link e Bird), automóveis (actualmente apenas a NDrive) e os operadores de transportes públicos, assim como veículos Uber/Cabify/etc e transportes públicos, integrados num algoritmo inteligente que - com as devidas protecções impostas pelo RGPD - conhecesse os nossos hábitos de utilização e pudesse prever e antecipar os melhores percursos e meios, poderia ter um impacto significativo na quantidade de carros e no impacto climáticos dos mesmos.

Os carros emitem 72,6% de todos os gases de efeito de estufa mas transportam apenas 30% da população. Este hiato é uma oportunidade para aumentar a eficiência do transporte rodoviário e a mobilidade partilhada integrada em rede é a via para fechar esta diferença entre o "há" e o "deve haver". Recorde-se que para além dos efeitos catastróficos do aumento dos gases de efeito de estufa, os poluentes emitidos pela combustão dos motores automóveis afectam as vias respiratórias com efeitos de curto e longo prazo na saúde humana.

Rui Martins, fundador dos www.vizinhosdoareeiro.org e presidente da associação Vizinhos em Lisboa

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