O Futuro está aí e mais do que nunca tem que ser discutido, como o fizeram um grupo de ex dirigentes associativos a semana passada na Universidade de Coimbra. Naquela que continua a ser uma das referências da nossa identidade educativa e cultural, tempo para recordar um percurso e uma narrativa de mais de 30 anos em que muita coisa mudou. Há 35 anos esta geração participou de forma ativa num processo aberto de modernização da sociedade portuguesa, no contexto da sua integração europeia. Passado este tempo o mundo mudou e vivemos tempos complexos - aproveitando os 136 anos da Associação Académica de Coimbra este será o tempo certo para refletir sobre o futuro tendo por base o passado e o presente.
Que Portugal queremos e podemos ter em 2030, num contexto global de incerteza? Portugal precisa de um novo paradigma, centrado na procura da excelência e na dinamização de redes globais geradoras de valor competitivo e inovador. Esta nova ambição para a Nação tem que assentar em novas variáveis estratégicas de mudança, muito viradas para os novos fatores críticos de competitividade, como a competitividade empreendedora, a inovação aberta e a educação colaborativa. Devem ser eles a base de uma nova aposta coletiva voltada para uma verdadeira ambição de excelência.
Para Portugal a essência desta nova competitividade empreendedora tem que se centrar num conjunto de novas ideias de convergência, a partir das quais se ponham em contacto permanente todos os que têm uma agenda de renovação do futuro. Importa acelerar uma cultura empreendedora em Portugal. A matriz comportamental da população socialmente ativa do nosso país é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva. Importa por isso mobilizar as capacidades positivas de criação de riqueza. Fazer do empreendedorismo a alavanca duma nova criação de valor que conte no mercado global dos produtos e serviços verdadeiramente transacionáveis.
Na sociedade da competitividade empreendedora, a falta de rigor e organização nos processos e nas decisões, sem respeito pelos fatores tempo e qualidade já não é tolerável nos novos tempos globais. Não se poderá a pretexto de uma lógica secular latina mais admitir o não cumprimento dos horários, dos cronogramas e dos objetivos. Não cumprir este paradigma é sinónimo de ineficácia e de incapacidade estrutural de poder vir a ser melhor. Importa por isso uma cultura estruturada de dimensão organizacional aplicada de forma sistémica aos atores da sociedade civil. Há que fazer da "capacidade organizacional" o elemento qualificador da capacidade mobilizadora.
Pretende-se também um Portugal de competitividade empreendedora mais equilibrado do ponto de vista de coesão social e territorial. A crescente (e excessiva) metropolização do país torna o diagnóstico ainda mais grave. A desertificação do interior, a incapacidade das cidades médias de protagonizarem uma atitude de catalisação de mudança, de fixação de competências, de atração de investimento empresarial, são realidades marcantes que confirmam a ausência duma lógica estratégica consistente. Não se pode conceber uma aposta na competitividade estratégica do país sem entender e atender à coesão territorial, sendo por isso decisivo o sentido das efetivas apostas de desenvolvimento regional de consolidação de clusters de conhecimento sustentados.
A sociedade civil portuguesa tem nesta matéria um papel central. A aposta na excelência, na sua diferença e no seu sucesso, é o resultado duma agenda estratégica que se pretende voltada para um futuro permanente. Apostar na excelência deve constituir um compromisso permanente na procura do valor, da inovação e da criatividade como fatores críticos da mudança. Os bons exemplos devem ser seguidos, as boas práticas devem ser percebidas, o caminho tem que ser o da distinção e da qualificação. Precisamos de uma Nação com aberta e com um sentido de confiança para o futuro.
Jaime Quesado é economista, gestor e especialista em Inovação e Competitividade