Conservadores e chauvinistas tendem a apoiar a primeira hipótese, liberais e feministas preferem a terceira e os que se encontram algures entre uma coisa e outra são normalmente atraídos pela segunda. Porém, não estarão todos a ignorar o quadro mais geral?.Na minha perspetiva, a razão principal para o desequilíbrio de género na gestão é a nossa incapacidade de discernir entre confiança e competência. Ou seja, porque as pessoas em geral confundem demonstrações de confiança com sinais de competência, somos erroneamente levados a acreditar que os homens são melhores líderes que as mulheres..Por outras palavras, quando se trata de liderança, a única vantagem que os homens têm sobre as mulheres (com exemplos da Argentina à Noruega, dos Estados Unidos ao Japão) é o facto de manifestações de arrogância - muitas vezes mascaradas de carisma ou charme - serem normalmente confundidas com potencial de liderança, e de estas serem mais frequentes em homens que em mulheres..Isto está em sintonia com a descoberta de que os grupos sem liderança têm uma tendência natural para escolher indivíduos centrados em si mesmos, excessivamente confiantes e narcisistas, e que estas características de personalidade não são igualmente comuns em homens e mulheres..Do mesmo modo, Freud argumentou que o processo psicológico de liderança ocorre porque um grupo de pessoas - os seguidores - substituíram as suas próprias tendências narcisistas pelas do líder, de maneira que o seu amor pelo líder é uma forma dissimulada de amor por si mesmo, ou um substituto para a sua incapacidade de se amarem. "O narcisismo de outra pessoa", afirma, "exerce uma grande atração sobre aqueles que renunciaram a uma parte do seu próprio... como se os invejássemos por manterem uma atitude mental abençoada"..A verdade é que praticamente em todos os lugares do mundo os homens tendem a pensar que são mais inteligentes que as mulheres. Contudo, a arrogância e o excesso de confiança mantêm uma relação inversa com o talento para a liderança - a capacidade de construir e manter equipas de desempenho superior e de inspirar seguidores a porem de parte as suas agendas egoístas em prol do interesse comum do grupo..Na verdade, seja no desporto, na política ou nos negócios, os melhores líderes são geralmente humildes e, seja por natureza ou aprendizagem, a humildade é uma característica muito mais comum nas mulheres que nos homens. Por exemplo, as mulheres ultrapassam os homens na inteligência emocional, o que conduz a comportamentos modestos..Além disso, uma análise quantitativa das diferenças de género na personalidade, envolvendo mais de 23 mil participantes em 26 culturas, indicam que as mulheres são mais sensíveis, respeitosas e humildes que os homens, o que é, indiscutivelmente, uma das descobertas menos contra-intuitivas das ciências sociais. Uma imagem ainda mais clara emerge quando se examina o lado escuro da personalidade: por exemplo, os nossos dados normativos, que incluem milhares de gestores de todos os setores e de 40 países, mostram que os homens são consistentemente mais arrogantes, manipuladores e inclinados ao risco que as mulheres..A implicação paradoxal é que as mesmas características psicológicas que permitem aos gestores homens chegarem ao topo da escada corporativa ou política são, na verdade, as responsáveis pela sua queda. Por outras palavras, o que é necessário para obter o posto é, não apenas diferente, mas exatamente o oposto do que é necessário para fazer bem o trabalho. Em resultado, demasiadas pessoas incompetentes são promovidas a postos de gestão, passando por cima de pessoas mais competentes..Sem grandes surpresas, a imagem mítica de um "líder" materializa muitas das características normalmente encontradas nas desordens de personalidade, como o narcisismo (Steve Jobs ou Vladimir Putin), psicopatia (preencher com o nome do seu déspota favorito), histrionismo (Richard Branson ou Steve Ballmer) ou maquiavelismo (quase todos os políticos a nível federal). O que é triste não é que estas figuras míticas não sejam representativas do líder médio, mas que o líder médio fracassará precisamente por possuir estas características..De facto, a maioria dos líderes, seja na política ou nos negócios, fracassam. E sempre assim foi: a maioria das nações, empresas, sociedades e organizações são mal geridas, como indicam a sua longevidade, rendimentos e índices de aprovação, ou os efeitos que têm sobre os seus cidadãos, empregados, subordinados ou membros. Uma boa liderança foi sempre a exceção e não a regra..Parece-me um pouco estranho que o debate recente sobre levar as mulheres a "lean in", ou a empenharem-se, se tenha concentrado em fazer com que elas adoptem mais destes traços disfuncionais de liderança. Sim, essas são as pessoas que normalmente escolhemos para nossos líderes - mas será que deviam ser?.A maior parte dos traços de carácter que são verdadeiramente vantajosos para uma liderança eficaz são predominantemente encontrados naqueles que não conseguem impressionar os outros com o seu talento para a gestão. Isto é especialmente verdade para as mulheres..Existem agora provas científicas sólidas do facto de as mulheres terem mais probabilidade de adotar estratégias de liderança mais eficazes que os homens. Ainda mais notoriamente, numa análise compreensiva de estudos, Alice Eagly e os colegas demonstraram que as mulheres gestoras têm mais probabilidade de obter respeito e orgulho dos seus seguidores, de comunicarem a sua visão eficazmente, de atribuir poder aos subordinados, de serem suas mentoras e de abordar a resolução de problemas de uma maneira mais flexível e criativa (todas características da "liderança transformacional"), assim como de recompensarem mais justamente aqueles que lhes reportam..Pelo contrário, os gestores masculinos têm menos probabilidade estatística de estabelecerem ligações com os seus subordinados e são relativamente mais ineptos a recompensá-los pelo seu desempenho real. Embora estas descobertas possam refletir um enviesamento de amostragem por se exigir que as mulheres sejam mais qualificadas e competentes que os homens para poderem ser escolhidas como líderes, não há forma de o saber, na realidade, enquanto este enviesamento não for eliminado..Em resumo, não é possível negar que o caminho das mulheres para as posições de liderança está repleto de obstáculos, incluindo um teto de vidro bastante espesso. Porém, um problema muito mais sério é a falta de obstáculos de carreira para os homens incompetentes e o facto de tendermos a fazer equivaler liderança com as mesmas características psicológicas que tornam o homem médio um líder mais inepto que a mulher média. O resultado é um sistema patológico que recompensa os homens pelas suas incompetências, enquanto pune as mulheres pela sua competência, saindo toda a gente prejudicada..Tomas Chamorro-Premuzic é uma referência internacional no que toca à análise de personalidade e a testes psicotécnicos. É professor de Psicologia das Organizações na University College London e vice-presidente do departamento de pesquisa e inovação na Hogan Assessment Systems, tendo já sido professor na London School of Economics na New York University. É co-fundador do site metaprofiling.com e autor do livro Confidence: Overcoming Low Self-Esteem, Insecurity and Self-Doubt.