Por que será?

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Definir inovação como o aproveitamento económico de novas ideias, põe a ênfase no essencial: o teste de mercado. Habituámo-nos a ouvir que Portugal tinha ganho várias medalhas de ouro em concursos de inventores. A mais das vezes são engenhocas, mais ou menos úteis, pelas quais ninguém está disponível para pagar o preço que tornaria a invenção rentável, e faria dela uma inovação.

Mesmo que nos índices europeus de inovação consigamos, em alguns anos, colocarmo-nos no pelotão da frente ("inovadores fortes"), as nossas taxas de crescimento continuam a ficar aquém do que tal posicionamento poderia perspetivar. É mais fumo do que fogo: inovadores na forma (do que achamos, ou dizemos, que fazemos) e pouco na prática (nas vendas). E, no entanto, é verdade que, nas últimas duas décadas, fruto das políticas de Mariano Gago, Portugal cresceu muito no número de doutorados e na produção científica, a tal ponto que parece justo dizer que tal potencial justificaria uma maior ambição. Por exemplo, quanto a patentes, descontando a propaganda ("país que mais cresceu"), o número de aplicações continua baixo, e a situação piora quando se passa da candidatura à aceitação. O que não quer dizer que não haja factos a merecer destaque: as empresas dominam; novas empresas (Feedzai, Sword Health) aparecem no topo; e, ó espanto, o Norte continua a ser a região com mais candidaturas, surgindo o Centro em segundo lugar.

É certo que a especialização produtiva dominante é mais propensa a inovações incrementais, pouco patenteáveis. Em paralelo ao número de artigos ou patentes, vale a pena, por isso, olhar para a ligação entre as instituições do sistema científico e tecnológico e o tecido produtivo. E, nesse caso, o padrão repete-se: é no Norte e no Centro, como é evidenciado no livro "A Balada da Média Virtude", que a cumplicidade entre ciência e empresa, entre produção de conhecimento e aplicação, faz jus ao termo ecossistema. Potenciando crescimento e exportações. E, no entanto, a julgar pelo frenesim mediático, e pelas opções da TAP, ninguém diria. Por que será?

Alberto Castro, economista e professor universitário

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