Portugal atrasa-se na Recuperação

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Temos defendido que meias medidas de contenção da pandemia, supostamente para manter as empresas a funcionar, têm-se revelado um desastre, quer pelo número de mortos e doentes que provocam, quer pelos desastrosos resultados económicos que geram.

O exemplo asiático foi claro, conter a pandemia com o uso de máscaras, com a quarentena e com o isolamento de focos, permitiu a estes países ter, por um lado, um número de mortos muito reduzido e, por outro, uma menor recessão o ano passado (a China até teve um crescimento em 2020), e uma mais rápida recuperação este ano. Mas apesar dos bons resultados o modelo asiático não foi seguido no resto do mundo.

Com as meias medidas Portugal conseguiu o triste desempenho de ser país com mais mortes por milhão de habitantes durante largas semanas no início deste ano. Agora avança uma nova vaga sem que as autoridades queiram tomar medidas mais efetivas e preventivas.

Foi publicado recentemente o relatório do FocusEconomics para a zona Euro. Aí se prevê que a economia portuguesa cresça 3,7%, valor consideravelmente abaixo da média. O país que se espera mais cresça é a nossa vizinha Espanha, seguem-se a Irlanda, a França, Malta, Grécia e Itália.

Depois de termos sido um dos países que sofreu maior recessão em 2020, somos agora um dos mais lentos a recuperar. Será possível pior desempenho? A culpa é da pandemia? Só houve pandemia em Portugal?

A lentidão na vacinação, os constantes atropelamentos e mudanças nas prioridades, a aposta na vacina que menos protege, a evidente incapacidade de atuar antes dos acontecimentos mas apenas depois de chamados à atenção pelas autoridades europeias, mostram um país aos ziguezagues sem capacidade de elaborar uma estratégia e de a seguir com rigor.

Soubemos recentemente que da primeira grande prioridade de vacinação, os 200 mil idosos em lares, parte ainda não recebeu sequer a primeira dose e muitos outros apenas a primeira. Seis meses depois do início da vacinação um pequeno grupo de 200 mil pessoas ainda não foi protegido na totalidade. E já voltámos a ter mortos nesse grupo. Mortes muito provavelmente evitáveis.

Vimos a reportagem que mostra os aeroportos asiáticos, vazios, eficientes e seguros, e que os contrasta com o português cheio e caótico em que não parece haver qualquer controlo sanitário das entradas.

Sabemos que centros de vacinação, como o de Oeiras, foram transformados em locais de propaganda eleitoral a favor do candidato Isaltino de Morais. Soubemos que pessoas jovens foram vacinadas sem respeito pelas prioridades.

E o Almirante procura emprestar uma imagem de autoridade e comando ao programa vacinação, quando o que se vai vendo é a desorganização, a lentidão e o desrespeito impune das regras e prioridades. Assim não vamos conseguir recuperar.

Foi prometida a imunidade de grupo para Setembro, mas não será deste ano. Talvez nem para o ano que vem se os vacinados com a AstraZeneca tiverem de receber uma terceira dose. A culpa como sempre é dos outros.

A pressão para vacinar os adolescentes e jovens vai aumentar à medida que as férias se aproximam e algumas camadas da população querem ir para o estrangeiro com a família e precisam do passaporte sanitário. Veremos como o Almirante e o Governo respondem.

Com o avanço da quarta vaga as possibilidades de recuperação económica diminuem. E é fácil perceber que mal a pandemia esteja controlada nos países centrais as medidas de apoio vão desaparecer com o pretexto da inflação que está a subir.

Então vamos perceber ainda melhor o efeito das meias medidas, dos desconfinamentos desordenados e da incapacidade de fazer cumprir medidas simples.

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