A economia da partilha já é mais do que um aluguer de automóvel com motorista ou um quarto em casa de família num bairro típico. Chegou aos serviços financeiros e propõe intermediar quem quer aplicar algum dinheiro com um retorno interessante e quem precisa de um empréstimo a juros competitivos. E, mais do que isso, a Portugal Crowd organizou uma garantia para quem empresta, partindo do princípio que, quem pede, tem casa própria disponível para hipotecar.
“Lá fora, este conceito está a ser desenvolvido e utilizado há algum tempo. Já há, inclusive, empresas (como a Toys’r’Us, nos EUA) que recorrem a este sistema para financiar a expansão da rede de lojas”, explica Bruno Libreiro, CEO da Upcrowding Portugal, a startup responsável pela plataforma Portugal Crowd.
Durante cerca de uma década, Bruno Libreiro trabalhou no mundo das finanças corporate, desenvolvendo projetos para alguns dos maiores grupos económicos portugueses. No ano passado, teve a ideia de implementar em Portugal uma alternativa ao investimento e ao financiamento e reuniu o apoio de investidores de áreas distintas, desde o imobiliário à financeira, passando pela publicidade e marketing, que financiaram a plataforma. “Entendemos que, nesta altura, depois dos problemas que o sistema financeiro tem enfrentado, as pessoas precisam de uma alternativa que lhes inspire confiança”, adianta Libreiro.
Lançada há quase dois meses, a plataforma já conseguiu financiar uma primeira oportunidade e tem mais duas à espera de investidores.
Como funciona? Simples: quem precisa de um empréstimo e possui casa própria envia o pedido à plataforma, sabendo que irá pagar menos juros pelo empréstimo do que noutro meio convencional. Como garantia, terá de dar a hipoteca do imóvel, que foi avaliado por um perito independente, sendo apresentado aos investidores o cálculo loan-to-value (LTV), isto é, a percentagem que o empréstimo pedido representa face à avaliação do imóvel. “Por segurança, só aceitamos LTV inferiores a 70%”, adianta Bruno Libreiro.
Durante 90 dias, a oportunidade fica disponível para quem quiser investir e receber entre 6% e 9% em juros anuais. Os valores a aplicar variam entre 50 e 2499 euros. Os juros serão recebidos mensalmente e o capital será pago de uma vez só no final do contrato.
“Para que as pessoas percebam que isto é seguro, o dinheiro não fica na nossa mão, fica guardado numa espécie de conta em nome do investidor numa instituição de pagamentos (Lusopay), portanto não é um montante que pudesse “desaparecer” se a instituição falisse, como sucedeu com os bancos, nem são capitais de que a instituição possa dispor para investir, como sucedeu também [no caso do BES]”, explica Bruno Libreiro.
Crescer rapidamente
E se investir numa das oportunidades da Portugal Crowd e o beneficiário não pagar? “Nesse caso, o papel da plataforma é acionar os meios legais para tentar recuperar os valores em dívida, numa primeira fase extrajudicialmente mas, se não resultar, executando a hipoteca a favor dos investidores”, garante o responsável da plataforma instalada no Palácio da Bolsa, no Porto. Dentro de um ano, a Portugal Crowd quer atingir “pelo menos sete mil utilizadores”, ombreando com a conhecida Raize.