Portugal deve reforçar a NATO. Mas baixar dívida é mais importante

Cresce o apoio à opção de evitar o confronto direto com os russos. Mas aumenta o pessimismo quanto à duração da guerra na Ucrânia: será de mais de um ano, segundo 47% dos inquiridos.
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A maioria dos portugueses concorda com o reforço dos meios de combate da NATO (65%) e com a participação de Portugal nesse esforço militar (57%). Mas é um compromisso limitado. Porque a maioria também acompanha a ordem de prioridades de António Costa: a redução da dívida pública é mais importante do que aumentar o orçamento da Defesa (57%). De acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, cresce o pessimismo quanto à duração do conflito na Ucrânia: são agora 47% os que apontam para mais de um ano de guerra (16% em março).

Foi no final de junho, na cimeira de Madrid, que os líderes da NATO tomaram uma decisão histórica: a força pronta a entrar em combate vai multiplicar-se por sete e passar de 40 mil para 300 mil militares. Dois terços dos portugueses estão de acordo com a decisão (65%), justificada com a ameaça russa.

São um pouco menos, mas ainda maioritários (57%), os que concordam com a necessidade de Portugal acompanhar esse reforço, ainda que isso implique um aumento dos gastos com a Defesa. Os mais empenhados são os homens (69%) e os que têm 65 ou mais anos (71%).

Recorde-se que os países da NATO têm o compromisso de fazer chegar os seus gastos com a Defesa a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). No caso de Portugal, significaria passar dos atuais 2,3 mil milhões de euros para mais de quatro mil milhões por ano. Não parece ir tão longe, nem a ambição do governo, nem a dos portugueses.

No final da cimeira da NATO, António Costa lembrou que a situação financeira do país é frágil. E deixou claro que, entre Defesa e redução da dívida pública, é esta última que leva primazia. E 57% dos portugueses concordam com o primeiro-ministro (apenas 15% discordam), com destaque para os eleitores socialistas, liberais e comunistas.

Quando se pergunta aos portugueses sobre a posição híbrida da NATO relativamente à invasão - apoio à Ucrânia, sem intervir diretamente na guerra com a Rússia -, são cada vez mais os que concordam com essa posição: 52% em abril, 56% em maio e 60% em julho. Essa percentagem é particularmente elevada em alguns segmentos da amostra: os mais velhos (77%); os socialistas (71%); e os que têm maiores rendimentos (69%).

Ainda assim, e no caso de a situação evoluir para um envolvimento direto da NATO na guerra, são mais os que apoiariam o envio de tropas portuguesas para Ucrânia (51%) do que os que rejeitam essa possibilidade (26%).

Os mais militaristas são os homens (mais 19 pontos que as mulheres), os mais velhos (mais 15 pontos que os mais novos) e os mais ricos (mais 13 pontos que os mais pobres). Os que mais resistem à possibilidade de enviar jovens militares para a guerra, mesmo quando estamos no mero campo das hipóteses, são as mulheres (mais 14 pontos que os homens) e os mais pobres (mais sete pontos que os mais ricos).

Por outra pergunta se percebe, no entanto, que apenas um quinto dos portugueses imagina que a guerra venha a ganhar dimensão e a envolver mais países: 15% pensam que se vai evoluir para uma guerra convencional à escala mundial, enquanto 5% lhe juntam a previsão de uma guerra nuclear.

Ainda assim a previsão que merece maior número de respostas é a que aponta para a Ucrânia a ceder território à Rússia (23%). Outros 9% apontam para um final ainda menos promissor para os ucranianos: Moscovo vai vencer a guerra. Não obstante, menos do que os que acreditam na vitória da Ucrânia e dos seus aliados (16%).

Independentemente do resultado, quase metade dos inquiridos (47%) já aponta para que a guerra se prolongue por pelo menos mais de um ano. Os pessimistas são agora três vezes mais do que em março passado (16%).

Os portugueses continuam a fazer uma avaliação bastante negativa da resposta do governo à crise económica que a guerra aprofundou. Mesmo que os números sejam mais simpáticos neste mês de julho, o saldo é de 21 pontos percentuais negativos (em junho eram 32 pontos).

De acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, só há dois segmentos da população em que o saldo é positivo (mais avaliações positivas do que negativas): entre os que têm 65 ou mais anos (por escassos dois pontos positivos) e entre os eleitores socialistas (sete pontos).

Entre as avaliações negativas destacam-se os habitantes do Norte, as mulheres e os mais jovens, para além dos eleitores do Chega e da Iniciativa Liberal.

À medida que os meses passam, são cada vez menos os inquiridos que dizem não ter sentido ainda o impacto da guerra: apenas um em cada dez, com destaque para quem vive na região de Lisboa (14%) e os que têm entre 18 e 34 anos (17%).

É sobretudo na diminuição do poder de compra (por efeito da inflação galopante, que em junho chegou aos 8,7%) que o conflito e a crise subsequente mais se fazem sentir (65%). E pelo menos um quinto dos portugueses (20%) já deixou de comprar determinados produtos e bens que costumava incluir no seu cabaz de compras habitual.

- O único caso em que há uma opinião quase comum é sobre o principal responsável pela guerra: oito em dez apontam a Rússia (77%). Os EUA aparecem em segundo, com uns distantes 6% (12% nos mais velhos).

- Cerca de dois terços dos portugueses concordam com a decisão da União Europeia que, em junho passado, concedeu à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão.

- Por longínquo que possa parecer, são ainda mais os portugueses que antecipam que a Ucrânia virá mesmo a fazer parte da União (68%). Os habitantes das áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa são os mais confiantes.

- Quase todos os inquiridos entendem que o governo deve implementar novas medidas para atenuar os efeitos da crise. A percentagem é particularmente elevada entre os habitantes do Norte (95%). Mas também os eleitores socialistas exigem mais ação a António Costa (90%).

- As mulheres são bastante incisivas no que diz respeito à prioridade ao controlo dos custos da energia por parte do governo (mais dez pontos do que entre os homens). Para os eleitores de PS (68%) e PSD (65%) esta também seria a medida mais importante a tomar.

- As três medidas que os portugueses mais valorizam, quando se lhes pergunta sobre quais são as áreas prioritárias, estão identificadas desde maio, mesmo que venham sofrendo alterações nas percentagens: limitar os aumentos dos preços da energia (63%); baixar os impostos (63%); e limitar os preços dos bens essenciais (62%).

- Baixar os impostos é a principal prioridade para quem vive na Região Norte (80%). Maiores defensores desta medida, só os eleitores do CDS. Aumentar os apoios sociais às famílias mais desfavorecidas é apenas a quarta opção no geral (47%), mas verifica-se que é a primeira entre quem tem 65 ou mais anos (66%).

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre a atualidade.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 10 de julho de 2022 e foram recolhidas 810 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 810 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,45%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

rafael@jn.pt

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