Portugal está a desperdiçar turismo de compras

Portugal "tem de captar a atenção" dos turistas, em especial do mercado asiático, defende a operadora de tax free Global Blue
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O diretor geral da Global Blue para Portugal disse esta quarta-feira que o país devia aproveitar melhor o potencial do turismo de compras, pedindo mudanças no processo de reembolso do IVA e mais investimento na captação de turistas.

Renato Lira Leite, responsável da Global Blue - um operador de ‘tax free’ que representa 80% do mercado mundial -, salientou que o turismo de compras está a crescer, mas podia aumentar mais se houvesse “um investimento claro” do Turismo de Portugal.

Durante a apresentação de um estudo da Global Blue sobre o turismo de compras em Portugal em 2015, Renato Lira Leite destacou que “as compras começam a ter um papel decisivo na escolha do destino” que deve ser potenciado.

Para isso, Portugal “tem de captar a atenção” dos turistas, em especial do mercado asiático, que está também a ser disputado por outras capitais europeias.

O ‘top 5’ dos compradores ‘tax free’ em Portugal é dominado pelos países de língua portuguesa, com Angola a liderar (43% do mercado), mas foi a China que apresentou maior crescimento no ano passado, ultrapassando o Brasil e posicionando-se em segundo lugar em Lisboa, que representa 85% das compras totais, com uma quota de 17%.

Os turistas chineses fizeram a compra média mais elevada quer a nível nacional (641 euros), quer em Lisboa (765 euros), atingindo mais do dobro da compra média dos cinco principais mercados (Angola, Brasil, China, Moçambique e Estados Unidos), respetivamente 278 euros a nível nacional e 335 euros em Lisboa.

Já as compras de angolanos e brasileiros foram afetadas pela desvalorização da moeda e pela descida dos preços do petróleo, refletindo-se numa variação homóloga negativa de 8 e 12% respetivamente.

O responsável da Global Blue lamentou que o plano estratégico do turismo, que estabelece as prioridades até 2020, esteja “pouco orientado” para o turismo de compras e considerou que o Turismo de Portugal, a entidade pública responsável pela promoção turística “não tem noção da importância” deste segmento.

Renato Lira Leite sublinhou a necessidade de facilitar a vinda de turistas, com rotas aéreas adequadas, mas apontou ainda outros caminhos como o ‘marketing’ cultural, aproveitando por exemplo, datas como o Ano Novo Chinês, e a simplificação do processo de restituição do IVA aos turistas.

O atual processo de reembolso do IVA implica o preenchimento de um formulário em papel que tem de ser validado à saída, na Alfândega, implicando “filas de espera” e criando “uma má imagem de Portugal” à saída do turista, explicou.

Segundo Renato Lira Leite circularam, no ano passado, “mais de um milhão de formulários ‘tax free’ em papel”, um processo que poderia ser simplificado através da certificação eletrónica, como acontece já em 13 países e que está também a ser avaliado pela Autoridade Tributária.

Também as lojas devem melhorar a comunicação, tanto na origem como no destino, aconselha Renato Lira Leite, lembrando que os turistas procuram exclusividade, criando oportunidades para as marcas nacionais.

Captar o interesse dos turistas passa pelo ‘layout’ [arquitetura] da loja, oferta dos produtos, mas também pela formação dos funcionários, de modo a que “toda a experiência de compra seja ajustada a cada nacionalidade”.

“A questão cultural é fundamental. É preciso saber como acolher, saber do que estão à espera. É a diferença entre efetivar vendas ou desperdiçá-las”, acrescentou o diretor geral da Global Blue para Portugal.

Renato Lira Leite disse que o volume de negócios das compras ‘tax free’, que dão direito a um reembolso de 15% do IVA aos turistas que residem fora da União Europeia, foi da ordem das “centenas de milhões de euros” no ano passado em Portugal, mas não quis detalhar o valor das transações.

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