Portugal, os frutos secos e o consumidor português: uma trilogia de sucesso

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Os frutos secos passaram a fazer parte do restrito grupo de setores do agroalimentar português que consegue assegurar o tão ambicionado auto-aprovisionamento alimentar. No caso da amêndoa é de 170% e no caso da castanha é de 116%, em relação àquilo que é o consumo nacional.

9,6 mil milhões de euros foi o valor da produção agrícola portuguesa em 2021, o que representa uma taxa de crescimento de 14,6% face a 2020 e por isso é justo dizer que os frutos secos hoje, com uma produção de 80 000 toneladas e exportações a atingir os 100 milhões de euros, contribuíram para este sucesso.

Muito se passou até que aqui chegássemos, pois sempre se produziram frutos secos em Portugal e a amêndoa é uma cultura com presença milenar na Europa. O elemento disruptivo foi sobretudo termos assistido nos últimos 10 anos a uma revolução ao nível da agricultura de precisão, regadio e variedades que asseguram produtividades até cinco vezes maiores.

Pouca gente saberá que Portugal foi o país do mundo que mais cresceu percentualmente no setor da amêndoa, quer em termos de área, quer em termos de produção, o que nos posiciona como um challenger em relação ao maior produtor mundial de amêndoa que são os EUA (70% da produção mundial). É ainda uma história de David e Golias? Sim é! Mas o fenómeno reveste-se de maior relevância, não numa perspetiva quantitativa em que Portugal tem hoje um lugar incontestável já no plano europeu (3º maior produtor), mas numa perspetiva qualitativa, pois a amêndoa portuguesa ou mediterrânica começa agora a ser valorizada pela sua qualidade e pelos grandes traders internacionais, confirmando-se cada vez mais a preferência do consumidor.

O que tem Portugal a dizer ao consumidor português, mas também ao consumidor europeu de frutos secos? Algo simples e que que porventura faz cada vez mais sentido nos nossos anseios racionais, mas também emocionais como consumidores. Hoje assistimos em direto aos problemas nas cadeias de abastecimento e consideramos que faz mais sentido encurtar estes circuitos, rumo aquilo que deve ser a autossuficiência alimentar da UE.

A análise de sustentabilidade ambiental tem que ser feita à escala planetária e aí Portugal tem vantagens comparativas. Desde logo para a produção de Frutos Secos de regadio quando comparado com o maior produtor mundial, Portugal utiliza menos água porque rega com sistemas modernos de gota a gota e o ciclo de emissões de CO2 é inferior, pois encurta cadeias logísticas de transporte, precisamente por estar mais próximo do grande mercado de consumo que é a Europa.

Portugal tem hoje, por via da inflação, o cabaz alimentar, mais caro da UE, apenas atrás da Alemanha e da Suécia. A aposta não poderá ser fechar Portugal, considerando que Portugal tem que ser autossuficiente per si, mas torna-se evidente que Portugal tem que produzir aquilo em é empiricamente bom, permitindo alavancar investimento.

Quer isto dizer que Portugal satisfaz as suas necessidades alimentares apenas a comer amêndoa e tomate ou a beber azeite e vinho (produtos em que somos autossuficientes)? Certamente que não! A lógica da autossuficiência alimentar tem que ser forçosamente europeia, em que cada um dos 27 EM produza aquilo para o qual tem apetência e condições, assegurando qualidade e preços competitivos a nível mundial.

Veja-se aliás que há uma feliz coincidência - é que são precisamente os setores que em Portugal assegura a autossuficiência que são também os setores mais exportadores e não apenas numa ótica de quantidade, mas numa ótica de qualidade. Basta para isso pensar no vinho, azeite e claro nos frutos secos!

Diretor Executivo Portugal Nuts

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