Portugal recupera da pandemia a meio do ano, mas crescimento é dos mais fracos de 2019 a 2022

Bruxelas elogia estabilidade política que advém da maioria PS e espera que a covid deixe de atrapalhar a economia no segundo semestre deste ano, especialmente o turismo.
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Portugal, Alemanha e Itália vão conseguir regressar durante este ano aos níveis de riqueza pré-pandemia, mas terão as retomas mais frágeis (assumindo o crescimento acumulado de 2020 a 2022, inclusive) da Europa, mostram dados novos da Comissão Europeia (CE), nas previsões de inverno divulgadas esta quinta-feira.

Espanha é o pior caso de todos: apesar do crescimento forte previsto para este ano, só deve conseguir regressar aos níveis anteriores à covid em 2023, indicam contas do Dinheiro Vivo a partir das novas previsões de inverno de Bruxelas, ontem divulgadas.

Segundo o comissário dos Assuntos Económicos, Paolo Gentiloni, Portugal até deve ser dos que mais cresce na Europa este ano e conseguirá regressar aos níveis pré-pandemia "no segundo trimestre" que se aproxima.

Mas o crescimento acumulado de 2021 e 2022 é dos que menos compensa a destruição pandémica que arrasou a economia em 2020, quando Portugal afundou mais de 8% em termos reais, muito pior do que a média da Europa na altura.

Teve muito a ver com a alta dependência do turismo e de outros setores interligados, como imobiliário, restauração, transportes, etc..

Os três anos combinados (2020 a 2022) dão um crescimento real acumulado de apenas 2% para Portugal, a terceira marca mais fraca da zona euro. A Alemanha só consegue recuperar 1,8% face a 2020 (embora tenha sofrido menos com a pandemia, a recessão alemã ficou em 4,6% em 2020).

Itália e Espanha, duas economias grandes da Europa e, tal como Portugal, muito dependentes do turismo estrangeiro e da livre circulação em termos de viagens, são os piores casos.

A retoma acumulada em Itália é de 1,7% nestes três anos que terminarão em 2022. Em Espanha, não se pode sequer dizer que a economia apaga os danos da pandemia: o cômputo da variação do produto interno bruto (PIB) real de 2020 a 2022 será negativo ainda: -0,2%, indicam os dados da CE.

No extremo oposto estão países como a Irlanda. A Irlanda foi, aliás, a única economia europeia que não caiu em recessão em 2020. No ano de embate frontal com a covid, conseguiu crescer quase 6%.

Apesar da forte destruição ao nível da economia doméstica (consumo das famílias, por exemplo), a economia irlandesa "foi particularmente apoiada pelas exportações de empresas multinacionais especializadas em equipamentos médicos, produtos farmacêuticos e serviços informáticos", explicam economistas da Comissão Europeia. Resumindo: em termos acumulados, a Irlanda deve conseguir engordar uns expressivos 25% nestes três anos.

Gentiloni elogia maioria estável, mas teme pelo turismo

Em todo o caso, Portugal recebeu vários elogios ontem, em Bruxelas. Por ter agora uma situação política estável e por ter uma das perspetivas de retoma mais fortes este ano, ainda sem contar com o Orçamento do Estado de 2022 que foi chumbado, precipitando eleições gerais no país.

O crescimento da economia portuguesa está com boas perspetivas, segundo a CE. Nas novas previsões de inverno, Bruxelas reviu em alta a retoma (crescimento real) de Portugal neste ano 2022, de 5,3% em novembro para 5,5% agora. Este valor é igual ao que o governo tinha na proposta de Orçamento do Estado de 2022, mas fica abaixo dos 5,8% previstos pelo Banco de Portugal e pela OCDE em dezembro passado.

Se for como diz a CE, em 2022, o país vai crescer mais do que a maioria dos seus pares da zona euro, mais do que a média da região da moeda única, onde a Comissão prevê uma expansão de apenas 4%, pautada pelos avanços mais modestos das grandes economias, como Alemanha e França (ambas 3,6%).

Como referido, Espanha, o maior parceiro da economia portuguesa também pode crescer relativamente bem, cerca de 5,6% em 2022, apesar do descalabro que significou a pandemia (a economia espanhola afundou quase 11% em 2020, o pior registo da Europa).

Paolo Gentiloni explicou que os cenários agora apresentados "baseiam-se na hipótese de que os efeitos económicos da atual onda pandémica são de curta duração, incidindo principalmente no primeiro trimestre, e que nenhuma perturbação importante acontece posteriormente". Mas "a incerteza continuará a ser elevada", avisou.

Grande variedade de casos na inflação

Na inflação, o grau de dispersão também é grande. Para Portugal, a CE prevê uma aceleração dos preços do consumidor de 0,9% (subida média em 2021) para 2,3% este ano, mas diz que há países onde o encarecimento dos bens de consumo vai ser mais forte, puxado pela subida súbita dos custos da energia e de várias matérias-primas.

Assim, a inflação esperada para a zona euro rondará os 3,5% este ano, já incluindo os acontecimentos do início deste ano (nova forte subida dos preços do petróleo e energia), indicou o comissário.

Mesmo assim, Portugal cresce relativamente bem, apesar da quinta vaga da covid no início do ano. Um dos trunfos é o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A Comissão observa que em 2021, "o investimento e as exportações de mercadorias já recuperaram para níveis acima dos anteriores à pandemia".

"Estas são boas notícias para os portugueses, que podem confiar numa recuperação plena nos próximos anos, alicerçada numa implementação célere e eficaz do PRR", disse o ministro das Finanças, João Leão.

Turismo, o fiel da balança?

Por seu turno, Bruxelas referiu que em 2021 "o consumo privado em Portugal recuperou a um ritmo um pouco mais lento à medida que os serviços intensivos em contacto [muitos ligados ao turismo, restauração, bares, discotecas] enfrentaram restrições contínuas durante a maior parte do ano".

"As exportações de serviços recuperaram substancialmente no segundo semestre do ano, mas permaneceram muito abaixo do seu nível pré-pandémico, uma vez que o enorme setor do turismo estrangeiro do país ainda foi condicionado pelas restrições ao nível das viagens internacionais".

Depois disso, veio ainda "o ressurgimento das infeções covid-19 no início de 2022, bem como uma nova queda nas viagens internacionais, o que deverá abrandar o crescimento económico em Portugal para 0,5% no primeiro trimestre de 2022".

"No entanto, assumindo uma melhoria das condições pandémicas, prevê-se que o crescimento recupere no segundo trimestre, quando a economia atingir o seu nível pré-pandémico", estima a CE.

Tudo considerado, para estes dois anos em perspetiva, "prevê-se um crescimento de 5,5% em 2022 e 2,6% em 2023".

"A procura interna deverá contribuir substancialmente para o crescimento em ambos os anos, ajudada pela implementação do Plano de Recuperação e Resiliência" e o setor externo deverá ter uma contribuição líquida positiva, refletindo a recuperação do turismo", reitera a CE.

Mas o balanço dos riscos continua a ser "um pouco negativo": se a pandemia piorar, o turismo volta a sofrer.

Depois dos alertas do estudo, o comissário italiano elogiou aos jornalistas a "estabilidade" política da maioria absoluta do PS. "É uma boa notícia para as avaliações que fazemos da economia".

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